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Reinaldo Azevedo

Mobilização por Renca lembra patacoada contra Belo Monte. E ainda: PSOL e Gilmar Mendes

Reinaldo Azevedo

31/08/2017 08h07

Ah, agora é a natureza que acorda "OZARTISTA". Infelizmente! Poderia ser o contrário. Fico aqui a imaginar como seria bom se os artistas acordassem a natureza, não é?, com sua representação, seu canto, sua poesia. Mas não! Eles querem falar, desta feita, como especialistas em meio ambiente e mineração. Aliás, sabem por que Cristóvão Colombo conseguiu chegar com a Santa Maria, a Pinta e a Nina à América? Porque não tinha ecologista lá em Castela para impedir a viagem. Nem na América, né? Vamos ver.

Sim, sim, sim! "Ozartista", como chamo esses mobilizados, vão cometer os velhos e bobos erros a que assistimos por ocasião da construção da necessária Belo Monte — "necessária", nesse caso, não perdoa vagabundo nenhum por crime de corrupção, deixo claro. Antes de chegar "AOZARTISTA", algumas considerações.

O decreto presidencial, que será substituído por outro, mais detalhado, extinguiu, sim, uma reserva, mas não uma reserva florestal, uma área de conservação. Suspendeu, para submetê-la a novos fundamentos, essa sigla horrorosa chamada "Renca", que quer dizer Reserva Nacional de Cobre e Associados. Foi criada na década de 80 por pressão dos militares. Estivessem presentes ao debate aos ecochatos de agora, é claro que teria havido protesto. Afinal, ali estava um disciplinamento, que envelheceu, para a exploração, na região, de "cobre e associados".  Ah, como sabemos, acochatos acham que comida, carne e minério se compram no supermercado. Não é preciso arar a terra, alimentar a vaca nem escavar o solo.

Insista-se: já é uma grande área prioritariamente voltada para a mineração. Dentro dela, há, sim, reservas ambientais e reservas indígenas, que serão preservadas. "Ah, quem garante?" Bem, se for assim, feche-se o país. Mas os ecologistas, com seu pensamento escatológico sobre o fim do mundo, armaram um salseiro. E nós sabemos que, hoje em dia, juízes e procuradores são sensíveis a coisas assim.

Não tardou para o juiz federal Rolando Spanholo, da 21ª Vara do Distrito Federal, suspender o decreto. Usou toga, martelo e bola de cristal. Suspendeu o editado e aquele por editar, já que Michel Temer decidiu substituir o texto, mas para tornar mais explícitas as garantias. Atenção! A liminar é ilegal. Se não cair no Tribunal Regional Federal, cai no Superior Tribunal de Justiça. Se não cai ali, cai no STF. Não é preciso haver projeto de lei para isso. A área, criada por decreto federal, pode ser alterada por decreto federal.

Também bateram boca nos bastidores o Ministério do Meio Ambiente, que previu um aumento do desmatamento na região, e o de Minas e Energia, que considera, e com razão — e o presidente Temer tem a mesma avaliação — que partes da Renca já estão degradadas hoje pelo garimpo ilegal. O que ser quer é levar a lei para lá. Ah, imaginem se o Ministério Público Federal, que hoje tem a pretensão de ser o déspota pouco esclarecido do Brasil, não entrou na onda… Claro que sim! Já berrou contra o decreto.

PSOL e Gilmar Mendes
E, também para surpresa de ninguém, o PSOL resolveu recorrer ao STF com um mandado de segurança. Esse partido adora um tapetão. O relator sorteado é Gilmar Mendes. Com medo fundado de que o magistrado vai cumprir a lei, o partido anunciou que estava retirando a ação. Agora é tarde. O ministro já pediu informações à AGU, e o mandado de segurança já está em tramitação. A decisão que ele tomar também determinará o destino das outras ações.

Espero que, nesse caso, como em outros, Mendes cumpra a lei. Vale dizer: deixe claro que o presidente da República pode, sim, editar decretos a respeito do assunto.

E aí apareceram "OZARTISTA". Puxando o coro, mais uma vez, ele, Caetano Veloso. Num dos vídeos, faz uma parceria com outra especialista em mineração e meio ambiente, Anitta. Como é mesmo aquela máxima? Se cercar, vira hospício; se cobrir com lona, vira circo..

Isso me lembra um movimento estúpido surgido em 2011 contra a Usina de Belo Monte chamado "Uma Gota d'Água". Juntava as Magdas e os Magdos da TV Globo. Eles gritavam que a área do lago de Belo Monte inundaria 640 quilômetros quadrados da Floresta Amazônica. E faziam parecer que isso era muita coisa.

Prestem atenção a uma conta com dados que valem ainda hoje. A Floresta Amazônica toda tem 5,5 milhões de km², 60% dos quais no Brasil (3,3 milhões de km²). Logo, aqueles 640 quilômetros quadrados representavam 0,012% do total da floresta e 0,019% da parte brasileira. Vou ter de ser didático. Digamos que uma artista politizada pesasse 58 kg: 0,019% do seu peso corresponde a 0,01102 kg — bem mais leve do que sua meia fina. Digamos que um ecologista como Marcos Palmeira pese 70 quilos; no seu caso, aquele 0,019% corresponde a 0,0133 kg. Uma de suas orelhas, dada a comparação, equivaleria a muitas usinas de Belo Monte…

Ator, cineasta, malabarista… As pessoas são livres para dizer o que lhes der na telha. Quando, no entanto, fazem um trabalho como esse porque se sabem figuras públicas e pretendem interferir no comportamento das pessoas, aí não podem mentir. Ninguém pode: ecochatos, juízes, procuradores…

Aliás, ainda bem que a antropologia nos beneficiou primeiro com o homem corajoso que decidiu botar a cara fora da caverna, né? Fosse um ecologista, estaríamos lá até hoje, arrastando, consta, as mulheres pelos cabelos.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.