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Reinaldo Azevedo

Barbosa rompe ainda outro monopólio, o de Bolsonaro: de respostas simples e erradas para problemas difíceis; só tropeçará em si mesmo

Reinaldo Azevedo

07/05/2018 07h51

Jair Bolsonaro: A retórica de Barbosa não chega ao fuzil, mas também atira no alvo errado

Se Joaquim Barbosa disputar, tira também de Jair Bolsonaro, entre os candidatos com chances de vencer a disputa, o monopólio das respostas simples e erradas para problemas difíceis. Há uma sede, especialmente nas classes médias — e na imprensa —, por soluções improvisadas, desde que possam acelerar a história. Cheguei a ler textos de pessoas cuja inteligência eu prezava elogiando o fato de o STF legislar, já que seria pelo bem do Brasil… Ainda que fosse realmente diminuir a impunidade — e não vai —, o mal maior estaria feito, como está: passamos a ter uma Constituição que não pode garantir o que nela vai escrito.

Assisti dia desses a um documentário que flagra Mussolini em seus piores melhores momentos. A gente se pergunta na poltrona: "Como foi possível um bufão daquela espécie chegar tão longe e inspirar outros tantos Europa afora, incluindo o Bigodinho pintor de paredes?" Pois é… A canalha fascista não surgiu do nada. Será que estou a comparar o Brasil de agora à Itália ou à Alemanha das primeiras décadas do século passado?

É claro que não estou comparando nem Bolsonaro nem Barbosa a Mussolini ou Hitler. Tampouco associo as circunstâncias do Brasil de hoje às das primeiras décadas da Europa do século passado. O que havia lá e há aqui, isto sim, é uma falência da racionalidade e um ódio incontido ao statu quo e às saídas que o próprio sistema oferece para se reformar. Quantas vezes não ouvimos por aí que é preciso "recomeçar o país do zero"? Como se isso fosse factÍvel… Quando a solução possível é vista como empecilho para "o outro mundo possível", vem coisa feia pela frente.

E, por óbvio, Barbosa tem potencial para conquistar votos também no eleitorado moderado, que tenderia para o centro. Bastará insistir que ele é o que combate a corrupção, não o que a promoveu, como fazem… os políticos!

Mas o que ele quer para o Brasil? Não faz diferença. A função de um presidente da República, a única é combater a corrupção, certo? O Brasil virou uma grande delegacia de polícia.

O único fator anti-Barbosa, hoje, é Barbosa. Nessa fase de pré-campanha, não é pequena a chance de ele se desentender com aqueles que o querem como salvador da pátria. "Caso supere isso, Reinaldo, ele está eleito?" Claro que não! Se sua candidatura deslanchar, é grande a possibilidade de um confronto com a esquerda na fase final. E aí sabe Deus…

E o Brasil? Nesse caso, continuará deitado eternamente em berço esplêndido. Sem que se saiba quando se levanta.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.