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Reinaldo Azevedo

Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida. O tempo é a minha matéria, o tempo presente. E a profunda e silenciosa alegria

Reinaldo Azevedo

24/12/2018 19h34

Os poetas Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade: com eles, a memória do pacto civilizatório. Eis um passado que instrui e traz memórias do futuro

Caras e Caros,

Escolhi uma mistura de Drummond com Bandeira para presentear os amigos. E também os leitores.

De Drummond:
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
*

A que responde Bandeira:
Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade,
O ar lúgubre, negro, negros…
Mas dentro em nós era tudo claro e luminoso!
Nem a alegria estava ali, fora de nós.
A alegria estava em nós.
Era dentro de nós que estava a alegria,
— A profunda, a silenciosa alegria…
*

Feliz Natal e um 2019 a ser domado pelo pacto civilizatório.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.