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Reinaldo Azevedo

Guaidó se reúne com Bolsonaro nesta 5ª; espero que venezuelano se abstenha de defender intervenção militar estando aqui

Reinaldo Azevedo

28/02/2019 07h32

Juan Guaidó (foto), autoproclamado presidente da Venezuela, encontra-se com o presidente Jair Bolsonaro nesta quinta. Fala depois com Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores. O Brasil não tem um engajamento dessa natureza na realidade interna de outro país desde, deixe-me ver, o Século 19. A tanto foi empurrado pela subserviência ao governo de Donald Trump. O justo repúdio a Nicolás Maduro deveria ter ficado restrito ao campo diplomático.

Está criado um precedente no subcontinente muito perigoso. De agora vamos ver até quando, quase tudo é permitido. Outros poderão dizer, em tese, algum dia — e tomara ele não chegue nunca! —, qual é o verdadeiro governo do Brasil.

Lamento! Não é assim que se faz.

Tanto pior quando esse líder que chega ainda não desistiu de flertar com uma resposta militar estrangeira a Nicolás Maduro, o que foi rechaçado pelo Grupo de Lima.

O que vocês querem que eu diga? Não me parece razoável que um líder de oposição a um governo, ainda que ditatorial, flerte com tanta ligeireza com uma intervenção militar estrangeira.

Seria preciso perguntar a Guaidó que número de venezuelanos mortos ele considera razoável para que haja, então, a libertação. Mais: seria forçoso que ele fizesse esse discurso também nas praças de seu país.

É, parece-me, hoje em dia, um consenso de que Maduro não cai enquanto os militares sustentarem a sua posição. Não fazê-lo seria entregar o pais a Guaidó, o mesmo que defende uma ação externa contra os… militares. Não faz sentido.

Acho pouco provável uma guerra. Mas é preciso notar que se está puxando a corda à espera de um erro grosseiro de Maduro.

Uma intervenção militar na Venezuela traria consequências desastrosas também para o Brasil. Parte do nosso território passaria a ser, por extensão, uma zona de guerra, o que não temos, reitero, desde o Século 19.

Por muito menos, eu bati duro nos petistas nas crises de Honduras e do Paraguai. Nos dois casos, o governo se imiscuiu em assuntos internos, mas com um grau de interferência muito menor.

Guaidó dará uma entrevista coletiva. Espero que o Itamaraty diga a ele que não é conveniente defender intervenção militar em seu país estando em solo brasileiro. Ele já fez isso na Colômbia.

Porque isso corresponderia a sinalizar que o Brasil se julga em condições de participar de uma expedição militar interventora.

É realmente impressionante que um militar reformado, com um governo coalhado de outros militares reformados, tenha nos empurrado para essa situação. O governo Bolsonoro completa dois meses no calendário amanhã.

Nicolás Maduro tem de cair, entendo. Mas isso é tarefa para os venezuelanos.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.