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Reinaldo Azevedo

A saga de Maia 3: Crispação reflete omissão do Planalto. E o fim da festa

Reinaldo Azevedo

21/03/2019 06h09

Fernando Azevedo e Silva, ministro da Defesa: ele não gostou de observação de presidente da Câmara, que nem era contra os militares, mas contra um erro

O presidente da Câmara também está incomodado com emanações do Palácio do Planalto. O presidente Jair Bolsonaro repete pelos cantos que enfrenta pressões da velha política. O deputado não perdoou:
"Eu acho engraçado. Quando dizem que o Parlamento quer indicar alguém no governo, é toma lá dá cá. Quando eles querem indicar relator aqui e interferir no processo legislativo, não é toma lá dá cá? Fala-se de um lado, mas quer se interferir no outro poder. Então, se você não quer que o Parlamento governe junto, vamos manter a independência. Se você quer governar junto, vamos manter a harmonia. Porque na hora que quer interferir aqui, não tem nada de errado, não é interferência, não é pressão, não é nada".

Isso reflete a quase solidão de Maia no esforço de tornar viável a reforma da Previdência na Câmara. E contra as bobagens que faz o Planalto e absoluta descoordenação. E ele antevê a corrida de muitos obstáculos, inclusive aqueles que se somaram ao que já se afigurava difícil, agora que se conhece a proposta para os militares, que inclui um plano de reestruturação de carreira.

Na terça-feira, antevendo a inconveniência de se juntar reforma da Previdência com o tal plano, afirmou o deputado:
"O Brasil quebrou. Eles [militares] estão querendo entrar nessa festa no finalzinho, quando já está amanhecendo, a música já está acabando, não tem mais ninguém para dançar. Então, precisa organizar de que forma que compensa eles de alguma forma sem sinalizar para o Brasil que nós estamos empurrando essa festa mais alguns anos com o Estado já quebrado, sem capacidade de realizar investimentos".

Bem lido o texto, percebam que ele admite a defasagem dos ganhos dos militares, mas observa a inoportunidade de se juntarem os temas. De todo modo, procurou interlocutores da cúpula militar para desfazer o mal-entendido. Isso não impediu que o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, afirmasse numa entrevista:
"Nos navios e submarinos; nas fronteiras, na Amazônia até os Pampas; e dentro de aeronaves e nos controladores cuidando do nosso espaço aéreo. Não temos tempo para estar no início e no final de festas".

O deputado já reconheceu que fez mal em recorrer a uma ironia, ainda que o objetivo não fosse criticar os militares.

Bem, meus caros, isso está resolvido. O que não está é outra coisa. Os defensores da reforma estão muito longe de ter os votos necessários para aprovar a reforma da Previdência. E mais longe ainda depois desta quarta.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.