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Reinaldo Azevedo

Felizes para o abismo 4: Reforma no telhado e popularidade em queda

Reinaldo Azevedo

22/03/2019 16h45

Na quarta, tão logo vieram a público os números da pesquisa Ibope sobre o desempenho do governo Jair Bolsonaro e do próprio presidente, um amigo me mandou uma mensagem antecedida de um "veja isto". Fanáticos do bolsonarismo, nas redes, acusavam a imprensa de ser responsável pela brutal queda de prestígio do "Mito" em período tão curto. Outros preferiram acusar o Ibope de mentir. E olhem que a reforma da Previdência, uma devoradora de reputações — pouco importa se a mudança tem de ser feita ou não (eu acho que tem!) —, ainda nem deu a partida. Ou Bolsonaro profissionaliza a condução política do governo e para de fazer e de falar besteira, ou "isso daí" não vai acabar bem. Alguém tem alguma esperança. Essa gente é um clichê: adora apagar incêndio com gasolina. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, era a esperança de fazer avançar a reforma da Previdência. Bolsonaro permitiu que fosse alvo das maiores vilezas — oriundas, inclusive do filhão que se comporta como blogueirinho malcriado. A reforma subiu no telhado. E não só porque hostilizaram Maia. É que não existe governo.

Os crentes da seita bolsonarista repetem obsessivamente que seu candidato venceu a disputa contra a vontade da imprensa, que preferiria outros nomes, o que é falso. Mas tomemos a afirmação por verdadeira só para evidenciar a dupla estupidez. Então os jornalistas, que não conseguiram impedir a vitória de Bolsonaro porque o povo os teria ignorado, agora determinam a avaliação que esse mesmo povo faz da gestão? Mentira antes e agora. Para lembrar: em janeiro, o governo era "ótimo ou bom" (ainda expectativas) para 49% dos entrevistados; agora, para 34%, mesmo índice dos que o consideram "regular". Dadas a trajetória dos números e a ruindade do governo, muitos nesse grupo estão prestes a saltar para o "ruim/péssimo", que disparou de 8% para 24%. Dizem confiar no presidente 49%; eram 62%. Os que não confiam escalam celeremente o gráfico: de 30% para 44%, a um ponto percentual do empate técnico com o outro grupo.

Bolsonaro afirmou não dar bola para os números. Segundo disse, o Ibope dizia que iria perder as eleições. Não! O Ibope retratava os números que ele tinha. Quando passou à frente, a pesquisa apontou: "Passou à frente". Sintoma de alienação da realidade.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.