Não dá para parte da imprensa servir de porta-voz do MPF e da PF. Quem leu?
Parte do jornalismo, hoje em dia, tem um medo enorme de se divorciar das redes sociais. E, assim, deixa de fazer o seu trabalho. Afinal, ele deveria estar para a gritaria que anda por aí como a ciência para a crendice. Dei uma olhada em tudo o que os grandes veículos produziram nesta quinta-feira sobre a prisão do ex-presidente. Não é uma conta na ponta do lápis. Mas eu me arriscaria dizer que 70% do que se publicou decorrem das avaliações e declarações de procuradores e da Polícia. Eu me pergunto: quantos leram as 46 páginas de Marcelo Bretas que não sustentam a prisão preventiva do ex-presidente? Não preciso que me respondam. A pergunta é meramente retórica.
O despacho de Bretas é uma das coisas mais alucinadas que já saiu de uma vara federal em qualquer tempo. Pouco importam a minha e a sua opiniões sobre a culpa e a inocência de Temer. Nós não somos juízes. O que interessa é saber se, no despacho, o magistrado embasa a prisão preventiva no que dispõe a lei. Não há quem consiga provar isso. Nem o próprio Bretas, como deixa claro o seu texto. Trata-se de uma peça de ficção e do que eu chamaria de "despacho de tese". Ele entende que, pra mandar alguém para a cadeia preventivamente, bastam os pressupostos — o crime aconteceu, e há indícios —, ainda que não estejam dados os requisitos que a lei exige: seria preciso demonstrar que o ex-presidente está cometendo algum crime agora — ele não demonstrou; que estaria prejudicando a instrução criminal — ele não demonstrou; que estaria prestes a fugir: ele também não demonstrou.