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Reinaldo Azevedo

FIM DO SHOW 4: No hospício, há até filho falando em guerra, ignorando Carta

Reinaldo Azevedo

23/03/2019 19h49

Eduardo Bolsonaro: o "eleitor" de Trump defende solução de força na Venezuela. Constituição que se dane

Rodrigo Maia até abre o caminho para o diálogo:
"Nós estamos olhando para frente. Cada um colocou o seu ponto de vista, o presidente colocou o dele, eu coloquei o meu. Eu não tenho nada mais a tratar do que ocorreu nos últimos dias. Eu estou preocupado em sinalizar claramente para a sociedade que o Parlamento vai permanecer sendo um ponto de equilíbrio, um ponto de diálogo, um ponto de clareza para a sociedade. Que no nosso parlamento nós vamos aprovar as matérias de interesse da sociedade".

Será que adianta? Enquanto Bolsonaro não inventar outra personagem, a resposta é "não". Porque ainda que se estabeleça uma "pax", será temporária. As hostes tuiteiras que cercam o presidente lembram a frase de um contemporâneo do revolucionário Marat, um dos jacobinos mais incendiários, que adorava ver rolar (o certo, aqui, não é "rolarem") cabeças na guilhotina: "Deem um copo de sangue a este canibal; ele está com sede".

A verdade patética é que o presidente vive sob a influência de um maluco que já o indispôs com o Poder Legislativo, com o núcleo militar que forma o governo e com qualquer coisa civilizada que se mova à sua frente, à sua volta ou no passado país. Responde, por exemplo, pelo espetáculo patético de genuflexão a Donald Trump em viagem recente aos EUA. Bolsonaro fez-se acompanhar do filho Eduardo no encontro privado com o presidente americano. Esse rapaz preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara e defendeu uma solução de força na Venezuela em entrevista a um veículo chileno.

Esqueceu-se, por exemplo, do Artigo 48 da Constituição, que submete decisões dessa natureza ao Congresso. Esqueceu-se do Artigo 4º, sobre os fundamentos da nossa República. Esqueceu-se da Lei 1.079, a do impeachment, que trata justamente dos crimes de responsabilidade que se podem cometer nas relações com um país estrangeiro. Depois retirou a fala, tentou corrigir-se. Inútil. Porque a batatada de ontem é aquela que antecede a de hoje, que antecede a de amanhã.

Reitero: esse Bolsonaro, com o hospício que o cerca, não vai conseguir governar. E tenho cá minhas dúvidas se ele realmente entende o alcance e o sentido das palavras. Desconfio que não saiba direito nem o que quer dizer "viés ideológico", que, na sua boca, designa exclusivamente a militância à esquerda.

Será que Maia consegue retomar o fio? É difícil. Bolsonaro gostaria de tê-lo como um empregadinho, que tomasse as porradas em seu lugar: da população e dos parlamentares.

Não vai acontecer assim.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.