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Reinaldo Azevedo

As falas da crise e um presidente cercado pela multidão do deserto

Reinaldo Azevedo

28/03/2019 07h32

Leiam estas falas:
"Ele está abalado com questões pessoais da vida dele".
(Jair Bolsonaro em entrevista a José Luiz Datena, da Band, referindo-se à prisão de Moreira Franco, que já está em liberdade, que é padrasto da mulher do deputado. Nota: os dois não são aliados políticos)

"Abalados estão os brasileiros que estão desde 1º de janeiro esperando que o governo comece a funcionar. São 12 milhões de desempregados, 15 milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, a capacidade de investimento do Estado brasileiro diminuindo, 60 mil homicídios, e o presidente brincando de presidir o Brasil."
(Rodrigo Maia, presidente da Câmara, respondendo à afirmação de Bolsonaro)

"Se foi isso mesmo [que Maia falou] eu lamento, porque não é uma palavra de alguém que conduz uma Casa. É uma irresponsabilidade. A nossa forma de governar é respeitando todo mundo e o povo brasileiro. Não existe brincadeira da minha parte, muito pelo contrário. Até quero acreditar que ele não tenha falado isso".
(Jair Bolsonaro durante encontro com empresários, em São Paulo)

"Da minha parte terminou, mas eu prometo que eu vou deixar o presidente começar a trabalhar. Então, daqui para frente, eu não respondo mais nenhuma gracinha, nenhuma insinuação, porque a gente precisa que ele trabalhe."
(Maia reagindo mais uma vez a Bolsonaro e dando por encerrado o entrevero)

Retomo
Caso se vá fazer um histórico dessa crise, fica difícil saber como ela começou. A origem, tudo indica, está num presidente que entende que o cargo é uma aventura pessoal. Mais: há quem fique lhe soprando aos ouvidos que ele está numa espécie de empreendimento missionário.

Como se vai retomar o esforço em favor da reforma? Pois é… Quem vai chamar para si a tarefa?

Alguém poderia dizer: "Pô, bem que Rodrigo Maia poderia, em nome dos interesses do Brasil, voltar ao comando…"

Mas ao comando do quê?

Na Presidência da Câmara, cumpre-lhe encaminhar os trabalhos, segundo o que prevê o Regimento Interno. E duvido que vá sabotar a tramitação. Até porque não há como. Não tem mais é como coordenar a coisa. Agora, o governo terá de arrumar seus articuladores. Quem?

Bolsonaro é cercado pela multidão do deserto.

De resto, não pode dizer "a nossa forma de governar é respeitando todo mundo" quem havia, pouco antes, evocado questões familiares para tentar desqualificar o presidente da Câmara.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.