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Reinaldo Azevedo

Que tal o Carlucho com uma pistola na mão na propaganda do Banco do Brasil?

Reinaldo Azevedo

26/04/2019 07h57

Finalmente temos um governo sem viés ideológico!

Ninguém menos do que o presidente da República telefona para o presidente do Banco do Brasil e manda demitir o diretor de Marketing porque não gostou de uma propaganda que busca atrair a clientela jovem.

Coloquem Lula no lugar de Bolsonaro. Agora o imaginem pedindo a cabeça de um diretor porque considerou "de direita" a propaganda de uma estatal…

Não há notícia de que tenha acontecido algo parecido no governo petista.

A ação de Bolsonaro é uma estupidez em si. Quando assistimos ao filme que ele mandou tirar do ar, as coisas pioram bastante.

Está aqui.

O que desagradou ao presidente?

A presença de negros?

A presença de brancos?

A presença de mulheres?

A presença de homens?

As tatuagens?

A presença de uma provável transexual?

A aparência descolada dos jovens que aparecem no vídeo?

Não temos um presidente da República, mas um delegado de costumes despreparado, sem traquejo social, sem vivência cultural nenhuma que não seja seu círculo de amigos e familiares, com baixíssima tolerância para o que escapa da estética tiro, porrada e bomba.

Se a peça publicitária fizesse a apologia de um estilo particular de vida ou, sei lá, de uma sexualidade, tentando, por intermédio desses exemplos, representar o conjunto dos brasileiros e dos jovens, vá lá. Mas se trata justamente do contrário. Se há um valor veiculado na propaganda, é justamente a aceitação pacífica e festiva da diversidade. E aí está o problema.

Não existe "o outro" no mundo de Bolsonaro e no bolsonarismo.

Servil, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, endossou a retirada da propaganda do ar e confirmou a demissão do diretor de marketing, Delano Valentim. Segundo Novaes, foi uma "decisão de consenso". É mesmo? Para não ser, Valentim deveria fazer o quê? Algemar-se à mesa?

Não, meus caros! Isso não é irrelevante.

É esse ódio exterminador a tudo o que não se parece com o seu mundo estreito e certamente aborrecido que faz com que o governo Bolsonaro seja, até agora, uma bagunça e que levou à crise com o vice-presidente, Hamilton Mourão.

Vejam a que buraco nos conduziu a demonização e a destruição da elite política, sob o pretexto de combater a corrupção.

E, se querem saber, vai piorar.

Essa gente combate os males da intolerância com ainda mais intolerância.

E percebo que certas áreas que deveriam protestar duramente contra a violência resolveram se esconder, covardemente, em nome da defesa do que "realmente interessa", como a reforma da Previdência.

Sim, eu acho que o país tem de fazer a reforma. Mas em que a sua defesa impede que se aponte o comportamento fascistoide do bolsonarismo?

Uma intolerância puxa a outra. E ele não vai parar porque suas milícias virtuais têm uma sede insaciável de sangue — por enquanto, também virtual.

Talvez faça sentido. Esse é mesmo um governo incompatível com quem leva ao ar uma propaganda que exalta a diversidade. Tem de ir para a rua! Quem deve ficar no governo é o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, acusado, com vários testemunhos de membros do próprio PSL, de comandar um laranjal durante a eleição.

O homem é compatível com o senso moral de Bolsonaro.

A diversidade honesta não.

Tenho uma ideia para a próxima propaganda do BB: Carlucho com uma Ponto 45 nas mãos.

Em nome da moral e dos bons costumes.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.