É imoral um Bolsonaro atacar vazamento; ainda não há preventivas e delações
Direi aqui sobre vazamentos de investigações sigilosas o que digo sempre, em qualquer caso: se a imprensa consegue as informações, tem de publicar. A obrigação de guardar sigilo é do ente estatal a quem cabe zelar por ele. E, como todos sabem, não sou entusiasta do expediente. Mas então cabe a pergunta: Flávio Bolsonaro pode alegar alguma forma de perseguição?
Quantas vezes lemos, ouvimos e vimos a rede bolsonarista — incluindo o pai e os três filhos — a saudar o expediente dos vazamentos seletivos celebrizados pela Lava Jato? Ora, o presidente Jair Bolsonaro fez de Sérgio Moro, a grande estrela da operação, o seu ministro-propaganda, a indicar, então, que o combate à corrupção era para valer. Flávio dê-se por satisfeito com o fato de que os métodos adotados por Deltan Dallagnol, Moro e outros não foram postos em prática. Ou alguém duvida de que, a esta altura, Fabrício Queiroz já estaria na cadeia, pronto para uma delação premiada? Não se descarte.
Se a quebra do sigilo indicar alguma atipicidade contemporânea ao início da investigação, então estará dada ao menos uma das razões previstas do Artigo 312 do Código de Processo Penal para mandar prender: risco à ordem pública. Dado o número de quebras de sigilo, é grande o risco de que se tente um concerto de versões. Nesse caso, estará sob ameaça a instrução criminal. O que também pode resultar em cadeia. E o mesmo vale para eventual tentativa de fuga.
É de vazamento que Flávio está reclamando? Há dois dias, veio à luz a informação de que, em delação premiada, Henrique Constantino, um dos donos da Gol, alega ter feito repasses a políticos do MDB e a Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. Carlos, o irmão de Flávio, foi ao Twitter para estimular a rede bolsonarista a difamar o deputado. E olhem que, até agora, o que há contra Maia, consta, é apenas a palavra de um empresário. Já no rolo que envolve a família Bolsonaro, tem-se muito mais do que isso.
Os Bolsonaros só chegaram ao poder — como vemos, elegeu-se uma família — porque boa parte dos brasileiros acreditou que todos os políticos ditos tradicionais eram canalhas, em contraste com um clã formado por verdadeiros Varões de Plutarco.
Se há um sobrenome que não pode reclamar dos frutos do trabalho do Ministério Público e das consequências de vazamentos de informações, esse sobrenome é "Bolsonaro". Para que a coisa lhe fosse inteiramente virtuosa, no entanto, forçoso seria que a gloriosa família não tivesse explicações a dar. E tem. Mas, pelo visto, não pode.
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