De general a Banco Central, agora todo mundo cuida da articulação política!
Oba! De general a Banco Central, agora todo mundo cuida da política. Querem ver que bacana?
O presidente Jair Bolsonaro tirou a tal articulação, agora para valer, das mãos de Onyx Lorenzoni e a passou para as do general — da ativa! — Luiz Eduardo Ramos, novo secretário de governo. Um general — da ativa! — fazendo política estará sempre fora do lugar numa democracia porque abre uma vereda entre a política e os quarteis. Não sou eu que quero assim, são os fatos, são as palavras.
A menos que haja em tal tipo de democracia alguma tentação latente que aponte para algum outro modelo de governo. E cumpre a quem zela pelo regime de liberdades públicas ser vigilante. E, claro!, sempre haverá aqueles que dirão: "Ora, o que é que tem? É o jeito brasileiro de fazer democracia". Errado! Temos o nosso jeito de fazer samba, porque é nosso; temos o nosso jeito de fazer bossa nova, porque é nossa; temos o nosso jeito de jogar capoeira; porque é nossa. O nosso jeito de fazer democracia pode perfeitamente bem ser apenas um modo de dar cor local ao autoritarismo.
Deixo claro que a articulação política nas mãos de qualquer outro que não Lorenzoni tende a ser mais funcional. Vamos convir: ele se mostrou um desastre continuado na área. A reforma da Previdência vai sair, vamos ver qual, por esforço de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara; de Rogério Marinho, secretário da Previdência, e de Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da matéria na Câmara. Estivesse o assunto a cargo de Lorenzoni, Bolsonaro poderia pegar o chapéu e voltar para casa.
E uma nota sobre o general Ramos. Aqui e ali, lê-se que seria, sei lá como dizer nestes dias, um "progressista" talvez. É expansivo no trato pessoal, em contraste com os modos comedidos do general Santos Cruz. Teria ainda trânsito até com parlamentares de esquerda etc e tal. Bem, há nessas considerações um déficit de percepção da realidade.
Na chefia do Comando Militar do Sudeste, Ramos tinha linha direta com Bolsonaro, independentemente do ministro da Defesa (Fernando Azevedo e Silva) ou do comandante do Exército, Edson Leal Pujol. E essa intimidade vinha desde a campanha. Era o mais entusiasmado cabo eleitoral de Bolsonaro nos quarteis. E isso significa que a política já estava no chamando ambiente castrense bem antes de Ramos assumir a articulação do governo.
É evidente, e só não vê quem quer fazer o jogo do contente, que isso torna parte da tropa mais fiel a Bolsonaro do que às instituições. Sempre estou disposto a aprender, e alguém poderia indicar alguma outra democracia em que vige tal modelo. Como não há, agora aguardo os ensaios que expliquem que temos o nosso jeito de fazer samba, bossa nova, capoeira e democracia.