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Reinaldo Azevedo

MORO E O MBL 1: O pedido de desculpas é admissão da veracidade dos diálogos

Reinaldo Azevedo

24/06/2019 07h28

Moro: quantos e quais crimes são admissíveis em nome do combate à corrupção (Foto: AFP)

Sérgio Moro, agora ministro da Justiça, vai se tornando uma figura patética. Não deixa de ser impressionante que tenha conseguido fazer o país refém de suas artimanhas. Sim, muita coisa explica que assim tenha sido. Entre elas, e isto ficará para outro post, está a tolerância de tribunais com as óbvias ilegalidades que praticou em nome do "combate à corrupção". As revelações feitas neste domingo, como já escrevi aqui, evidenciam o concerto de juiz, procurador e até delegado da Polícia Federal com o intuito de manipular a investigação e o andamento da Lava Jato. Mas nada revela tanto o seu caráter e a sua fragilidade como os episódios relativos ao MBL (Movimento Brasil Livre). O agora ministro mandou uma mensagem de áudio à turma desculpando-se por ter chamado seus integrantes de "tontos" em 2016.

Os críticos do MBL se divertiram a valer nas redes sociais. Por motivos que entendo errados. Já tive mais proximidade de pontos de vista com o movimento do que agora — nunca em relação ao juiz Sérgio Moro. Hoje em dia, há mais divergências do que o contrário. Abstenho-me de discorrer sobre a tediosa questão de quem mudou mais. É irrelevante neste momento. Uma coisa é certa: "tontos" não são. Goste-se ou não, são bastante espertos.

Contexto: em 2016, Moro os chamou de "tontos" porque um grupo ligado ao movimento organizou um protesto em frente ao condomínio em que morava Teori Zavascki. Moro considerou que aquilo poderia contribuir para crispar ainda mais sua relação com o Supremo. Com a revelação daquela fala, o juiz houve por bem enviar ao MBL um áudio. Destaco os principais trechos:
"A Folha de S. Paulo publicou hoje uma reportagem baseada naquelas mensagens que foram obtidas de maneira criminosa por um hacker. Nem sei se as mensagens são verdadeiras. Mas uma das mensagens ali, eu não sei se são autênticas ou não, podem ter sido adulteradas, tem uma referência da minha parte, na qual eu reclamo… eu reclamaria ao procurador Deltan contra um protesto, realizado lá em 2016, na frente da casa do ministro Teori Zavascki. Em 2016, tava aquele momento tenso da divulgação do áudio do Lula com a Dilma… Aquilo lá eu fiz com convicção na absoluto (sic) correção, mas gerou pressão… E foi um período complicado. Eu achei aquele protesto um tanto quanto inconveniente. O ministro Teori Zavascki era boa gente, uma pessoa séria, e a realização daquele protesto poderia gerar uma animosidade do Supremo contra lá a 13ª Vara, o que não era desejado. Consta ali um termo, que não sei se usei mesmo, acredito que não, pode ter sido adulterado, MAS QUERIA DIZER ASSIM, PEDIR AS MINHAS ESCUSAS, SE EU EVENTUALMENTE UTILIZEI, porque eu sempre respeitei o Movimento Brasil Livre e sempre agradeci o apoio que esse movimento deu não só à Lava Jato, mas esse movimento, nos últimos cinco anos, de avanço contra a corrupção e construção de um país melhor, um país mais íntegro. Então fica minha referência a uma conversa privada. Não sei se é autêntica essa mensagem. Mas, enfim, quero externar aqui o meu respeito a todos os membros do Movimento Brasil Livre e, enfim, se, de fato, usei o termo, peço escusas, mas saibam que têm todo o meu respeito e sempre terão".

É evidente que a admissão da veracidade dos diálogos não é o único tiro no pé que Moro dá com tal áudio.
Continua aqui

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.