Eis um bom nome para Bolsonaro indicar para a PGR: um xiita da Constituição
O presidente Jair Bolsonaro decidiu deixar para a semana que vem, quem sabe para a seguinte, a indicação do nome que pretende ver no comando da Procuradoria Geral da República. Já havia esboçado com interlocutores influentes a intenção de indicar Augusto Aras, que não disputou a eleição promovida pela ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República). Ninguém se entusiasmou.
Fosse por vontade de Dias Toffoli, presidente do Supremo, e Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, Raquel Dodge continuaria no cargo. Ela também não tem nenhuma oposição de Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado. Mas ninguém aposta nisso. Pelos cantos, o presidente da República já deixou claro que considera esse cargo coisa "para um homem".
E, bem…, aquele fiscal do Ibama que um dia o multou por pescar em área ilegal perdeu cargo de confiança. Raquel já apresentou contra o então deputado uma denúncia por racismo. Denunciado? E por uma mulher? Passa da conta!
No Piauí, nesta quarta, Bolsonaro comentou:
"Tenho tempo ainda. Está difícil a escolha, tem muitos bons nomes. Tenho certeza que o escolhido, além de ser aprovado pelo Senado, todos se orgulharão dele".
Todos quem?
E acrescentou:
"Eu quero uma pessoa que esteja alinhada e afinada com o futuro do Brasil. Que não seja xiita na questão ambiental, na questão de minorias, na questão indígena, dentre outros. Queremos um PGR que esteja preocupado em destravar a economia".
Numa abordagem puramente racional, a gente poderia dizer: "Se, por 'xiita', se toma um extremista, então é o caso de dizer que gente com esse perfil, com efeito, não é bem-vinda". Ocorre que nunca se sabe que significado o presidente atribuir a tal palavra,
Como vê o mundo alguém que associa os adversários a cocô? Segundo essa perspectiva, o que é ser um extremista? A resposta talvez pudesse ser essa: "Bolsonaro considera xiita todo aquele que enxerga no oponente também um humano". Aí fica difícil!
Eu, por exemplo, ficaria muito satisfeito se o presidente indicasse para a PGR um nome que fosse um radical da Constituição e das leis.
Bolsonaro já conversou com Mário Bonsaglia (1º colocado na lista tríplice da ANPR), José Bonifácio de Andrada, Augusto Aras, Marcelo Rabello, Paulo Gonet e Antônio Carlos Soares. Todas são subprocuradores-gerais. Também esteve com o procurador regional Lauro Cardoso, com Jaime de Cassio Miranda, procurador-geral da Justiça Militar, e com Marcelo Weitzel Rabello de Souza, subprocurador-geral de Justiça Militar. Não se encontrou ainda com Luiza Frischeisen (2ª colocada na lista da ANPR), subprocuradora-geral, e com Blal Dalloul (3º colocado), procurador regional. Já esteve, por óbvio, várias vezes com Dodge, a mulher que o denunciou…
Há no grupo acima ao menos três nomes que têm compromisso estrito com a ordem legal e que poderiam, independentemente de "viés ideológico" — porque distintos — fazer um bom trabalho. Mas não serei eu a "tirar pontinhos" dos ditos-cujos…
De toda sorte, escolho meu perfil: uma pessoa que seja "xiita da ordem legal".