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Reinaldo Azevedo

Minha coluna na Folha: Senado pode votar de pé ou de joelhos para Bolsonaro

Reinaldo Azevedo

16/08/2019 07h44

Davi Alcolumbre ao lado de JaIr Bolsonaro. Presidente do Senado dirá que tipo de Casa quer comandar (Foto: Pedro Ladeira-19.jul.19/Folhapress)

Leiam trecho:
O Senado terá um papel central na definição da qualidade da democracia brasileira e, por consequência, na sobrevivência de um regime que mereça essa designação. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), em particular, escolherá como quer entrar para a história.

E essa história vai passar pelas respectivas indicações do procurador-geral da República, do embaixador do Brasil nos EUA e dos dois nomes que integrarão o Supremo Tribunal Federal.

Já escrevi e afirmei algumas vezes que o presidente Jair Bolsonaro tem ao menos uma virtude, que, ao se exercer, elimina a esperança de que outras possam existir: ele é sincero ao expor as suas utopias.

Na quarta-feira (14), por exemplo, discursou em Parnaíba, no Piauí: "Nós vamos acabar com o cocô no Brasil: o cocô é essa raça de corrupto e comunista."

E ele tem um sonho: "Nas próximas eleições, nós vamos varrer essa turma vermelha do Brasil. Já que, na Venezuela, tá bom, vamos mandar essa cambada pra lá. Quem quiser um pouquinho mais para o norte, vai até Cuba. Lá deve ser muito bom também."

O Senado terá de avaliar se a futura indicação para a PGR terá como parâmetro a Constituição e demais regras do jogo ou se o presidente busca um perseguidor-geral da República.

Que fique claro: o titular do cargo tem, sim, poderes para atender ao ânimo profilático e higienista do presidente. E convém que os não esquerdistas evitem caminhar confiantes para a guilhotina. É "vermelho e cocô" quem Bolsonoro decidir que é "vermelho e cocô".

Perguntem, senhores senadores, a Gustavo Bebianno ou a Carlos Alberto dos Santos Cruz quanto vale a lealdade do grande líder.

Dois garantistas do Supremo, tão distintos entre si, deixam a Casa: Celso de Mello sai no ano que vem, e Marco Aurélio, no seguinte. E, também nas indicações dos respectivos substitutos, a qualidade da democracia brasileira estará em questão.

O Senado, como instituição —eram outras as composições— já errou e se omitiu o suficiente por ocasião de algumas indicações feitas por Dilma Rousseff.

Lembro-me de um debate que se tornou, a esta altura, bizantino sobre se a Turquia dos primeiros anos de Recep Erdogan estaria inventando uma "democracia à turca", que alguns finórios ousavam qualificar de "iliberal".

A "democracia iliberal" é o terraplanismo da teoria política; é a chance que se dá aos truculentos de considerar que é matéria de crença esse negócio de que a soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado a hipotenusa.

Desde o princípio do "erdoganismo", sustentei que não se construía uma "democracia à turca", mas uma "ditadura à turca". Bingo! "Democracia iliberal" é coisa de pilantras ou de idiotas.

E os idiotas, com a imodéstia que tão bem os caracteriza, estão por aí —inclusive na imprensa— a piscar os olhos, como "os moços de fretes" (Fernando Pessoa), para os arreganhos autoritários de Bolsonaro.

O "Mito" tem ancestrais ideológicos com os quais a idiotia de então julgava ser possível conviver e que supunha controláveis. Não associavam adversários a excrementos, mas a ratos. Alcolumbre, um judeu, deve saber do que falo.
(…)
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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.