Topo

Reinaldo Azevedo

Deltan mudou contratos de palestras, e filantropia ficou de lado

Reinaldo Azevedo

23/08/2019 07h03

Os contratos de Dallagnol: no começo, a filantropia; depois, esse troço ficou pra lá…

A atividade de palestras remuneradas do procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato, passou por mudanças contratuais para deixar de ter a filantropia como principal destino dos valores.

Ele começou a focar o meio empresarial e arrecadou ao menos R$ 580 mil a partir de 2017, apontam diálogos e documentos obtidos pelo The Intercept Brasil e analisados em conjunto com a Folha.

Mensagens, planilhas, recibos e contratos que circularam no aplicativo Telegram de Deltan indicam um contraste entre os argumentos da defesa apresentada por ele à Corregedoria do Ministério Público em junho de 2017, que levaram ao arquivamento de uma reclamação disciplinar, e a conduta do procurador em relação às palestras a partir daquele ano.

Deltan sempre se recusou a divulgar a relação de empresas e entidades que pagaram por suas palestras, bem como as remunerações recebidas por esse trabalho. A lista de contratantes do procurador traz unidades da operadora de planos de saúde Unimed, firmas do mercado financeiro e associações industriais e comerciais.

O valor de cada palestra variou entre R$ 10 mil e R$ 35 mil. O total arrecadado com elas a partir do início da Lava Jato passou de R$ 1 milhão caso sejam somadas as quantias que Deltan também destinou para instituições filantrópicas —isso ocorreu principalmente em 2016.

Conforme mostrou a Folha em 14 de julho deste ano, Deltan montou um plano de negócios no ano passado para lucrar com a fama da Lava Jato. Com um colega, cogitou abrir uma empresa em nome de suas mulheres para evitar questionamentos legais. As revelações levaram à abertura de novas reclamações disciplinares contra ele na Corregedoria.

Em nota, Deltan diz que, na soma de 2016 a 2018, destinou a maior parte dos valores para atividade beneficente ou ações anticorrupção, incluindo uma reserva de R$ 184 mil que mantém em aplicação financeira e que ele diz planejar para essa última finalidade. Ele não comenta as mudanças ocorridas especificamente após 2017.

O chefe da força-tarefa apresentou em junho de 2017 uma resposta a uma reclamação disciplinar sobre as palestras que havia sido protocolada na Corregedoria do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) pelos deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS) e Wadih Damous (PT-RJ).

Nessa manifestação, Deltan alegou que suas palestras deveriam ser enquadradas como atividade docente, o que é permitido por lei. Também argumentou que a atividade tinha como objetivo principal promover combate à corrupção e colaborar com ações de filantropia e sociais.

Segundo Deltan, até 2016 a maior parte do valor arrecadado com as palestras havia sido doada ao Hospital Oncopediátrico Erasto Gaertner, de Curitiba. A instituição médica informou à época ter recebido R$ 219 mil (R$ 240 mil em valores atualizados) do procurador.
(…)
A reportagem examinou os valores de 20 palestras de Deltan pagas ou programadas entre fevereiro de 2017 e fevereiro de 2019, conforme diálogos, planilhas, recibos e contratos que circularam em grupos de conversas do procurador. A maioria delas teve como tema corrupção e ética nos negócios.

Em valores atualizados pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a soma das remunerações dos eventos desde 2017 encontrados na documentação é de cerca de R$ 580 mil.

Um quarto das palestras verificadas pela reportagem foi para unidades do plano de saúde Unimed. Os eventos foram remunerados pelas Unimeds central e de Santa Catarina, Porto Alegre, Presidente Prudente (SP) e Assis (SP).
(…)
Por Flavio Ferreira, da Folha, e
Amanda Audi, Leandro Demori e Alexandre de Santi, do The Intercept Brasil
Na Folha

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.