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Reinaldo Azevedo

Produção industrial desaba enquanto governo Bolsonaro combate o socialismo!

Reinaldo Azevedo

01/10/2019 04h01

Leiam o que informa o Estadão. Volto em seguida.

Enquanto a produção industrial no resto do mundo cresceu 10% desde 2014, a atividade nas fábricas brasileiras caiu 15% no mesmo período – e não recuperou o patamar em que estava antes da recessão. Se nada for feito, de acordo com economistas, o Brasil corre o sério risco de deixar de estar entre os dez maiores países industriais do mundo.

Para além dos efeitos negativos da recessão no Brasil, de 2015 a 2016, sobre confiança e emprego, os variados choques que a atividade industrial sofreu no País e os problemas estruturais que o setor enfrenta explicam a disparidade do desempenho local frente a países vizinhos, dizem especialistas.

E o pior: esses fatores devem levar a indústria, que tem peso de cerca de 11% no Produto Interno Bruto (PIB), a uma nova retração este ano, após registrar crescimento em 2017 e 2018, influenciada também pela desaceleração global. O pico de participação da indústria no PIB foi em 1976, com 22,3% (a preços constantes de 2010).

De acordo com a economista Laura Karpuska, da BlueLine Asset, que sistematizou os dados sobre produção industrial no mundo, nos países emergentes, excluindo a China, a atividade das fábricas cresceu 8% desde 2014, enquanto na América Latina o desempenho foi de queda de 4% – e o destaque negativo entre os maiores países da região foi o Brasil.

Dentre os motivos que ajudam a explicar o desempenho mais fraco do Brasil em relação aos vizinhos, Laura cita primeiro os diferentes choques que vêm impactando a economia do País. A queda nas exportações para a Argentina, que afeta os manufaturados, pode ter tirado até 0,7 ponto porcentual do PIB em 2017 e 2018. Também pesaram a tragédia o rompimento da barreira da Vale, em Brumadinho (MG) e a greve dos caminhoneiros, em maio do ano passado.

"À exceção da Argentina e dos problemas gravíssimos da Venezuela, a crise industrial do Brasil foi uma das mais profundas da América Latina, e a recuperação tem sido das mais frustrantes possíveis também", reforça o economista Rafael Cagnin, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Vem da entidade o alerta de que o Brasil, que ocupa a nona posição entre os maiores países indústrias, pode deixar, em breve, de aparecer entre os dez primeiros desse ranking.

O desempenho fraco da indústria, na avaliação de Cagnin, reflete tanto a demanda fraca quanto problemas estruturais de competitividade e produtividade, como a complexa estrutura tributária, o baixo investimento e o parque produtivo obsoleto. O economista reforça que é cada vez maior o risco de a atividade fechar 2019 com queda na produção.

Depressão
"Se a situação em que a indústria brasileira está não é uma depressão, eu não sei mais o que poderia ser", afirma o economista e ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore. "A indústria nacional e a do resto do mundo seguem a mesma trajetória até 2012. Em 2013, a do Brasil começou a fraquejar e nunca mais se recuperou, enquanto a produção mundial continua crescendo e, hoje, está 40 pontos porcentuais na frente."
(…)
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COMENTO
Se você quer saber se o fato de a indústria representar apenas 11% do PIB é muito ou pouco, pense no gigante chinês: chega a 40,5%.

Nas economias mais poderosas, e também na China, a liderança fica com o setor de serviços, mas é a força da indústria que determina a qualidade do crescimento e que indica o vigor econômico. Concentra o avanço tecnológico, paga os melhores salários, qualifica mão de obra. Trata-se, enfim, de um termômetro de desenvolvimento.

As coisas estão muito feias por aqui. E, como sabe qualquer especialista no setor, o governo que aí está não tem uma ideia remota que seja para sair do buraco.

Nesta segunda, Carlos Alexandre da Costa, secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, participou do 5º Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas e Equipamentos. Aí ele resolveu ter uma ideia.

Reproduzo trecho de reportagem da Folha:
As afirmações do secretário de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos Alexandre da Costa, de que uma série de políticas públicas estavam transformando o Brasil em um país socialista foram alvo de críticas por parte de participantes do 5º Congresso Brasileiro da Indústria de Máquinas e Equipamentos.

Além de classificar sistemas de controle como eSocial e Bloco K como ferramentas socialistas, Costa afirmou que o crescimento do Brasil foi interrompido por políticas que queriam levar o país para o socialismo, entre o final de década de 1950 e início dos anos 1960, mas que se recuperou a partir dos governos militares. A partir dos anos 1980, segundo ele, iniciou-se um processo de crescimento do Estado, um excesso de centralização.

"A gente não pode ficar nessa disputa entre capitalismo versus socialismo dos anos 70", afirmou a economista Cristina Fróes de Borja Reis, pós-doutoranda na Technische Universität Berlin (Alemanha), que foi aplaudida pela plateia ao criticar a fala do secretário.

ENTENDERAM?
A indústria brasileira está naufragando, o governo não tem nem mesmo um diagnóstico a respeito, e o homem que responde pela "competitividade e produtividade" está ocupado em produzir proselitismo contra o suposto socialismo que teria passado a vigorar no país.

Essa gente está brincando com o perigo.

Em vez de um plano de governo, o que se tem é amadorismo arrogante, incompetente e, lamento dizer, ignorante.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.