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Reinaldo Azevedo

Aplaudo Pompeo por desprezar Bolsonaro! OCDE em vez de OMC era mau negócio!

Reinaldo Azevedo

11/10/2019 06h55

Mike Pompeo, secretário de Estado dos EUA: que bom ele não deu bola ao Brasil (Foto: Foto: Erin Scott/ Reuters)

No dia 19 de marco, escrevi três posts neste blog que traziam no título a expressão "DESASTRES DE BOLSONARO". Tratava da viagem do presidente brasileiro aos EUA. Querem saber? Ao considerar o Brasil um país irrelevante, talvez Mike Pompeo nos tenha feito um bem sem querer.

Não conheço ninguém relevante, com miolos, que considere que o Brasil sairia ganhando caso entrasse na OCDE, mas com o custo de abrir mão de prerrogativas de que goza na Organização Mundial do Comércio. Lembro trecho dos posts:

Podem juntar tudo, somar, espremer, reler, virar do avesso… A única coisa positiva decorrente da viagem de Jair Bolsonaro aos EUA foi o discurso de Paulo Guedes feito na noite de segunda na Câmara de Comércio Americana. O resto foi sujeição primária e constrangimento, com o problema adicional de se ter agravado muito a questão venezuelana. E uma constatação resta inequívoca: o presidente brasileiro não é e nunca será do ramo. E isso também se consolidou, saibam, no núcleo militar que compõe o governo. Há quem jure ter ouvido a frase: "Não tem salvação!" Acreditem: o alto-comando das Forças Armadas gostou da passagem de Bolsonaro pelos EUA menos do que este escriba.

Vamos ver. O fim de alguma barreira comercial imposta por americanos a produtos brasileiros entrou na pauta na conversa com Donald Trump? Não! Segue tudo como era antes. Não fosse o discurso reparador de Guedes, que deixou claro que o país pretende manter intactas as relações com os chineses, Bolsonaro teria voltado a seu país depois de ser protagonista de um evento hostil à China, nosso maior parceiro comercial, em terras americanas. Refiro-me, claro!, àquele jantar desastrado na embaixada do Brasil em Washington, com as presenças de Steve Bannon e Olavo de Carvalho, o dueto do discurso paranoico contra a China.

Ah, sim! Os EUA retirarão o veto à entrada no Brasil na OCDE, mas isso seria feito à custa de o nosso país abrir mão de benefícios que mantém na OMC (Organização Mundial do Comércio) de "nação em desenvolvimento" — que pode celebrar acordos bilaterais em condições especiais. Vejam que curioso: Coreia do Sul e Turquia integram o tal grupo de 36 países, mas deles não se exigiu tal renúncia. Acabo de falar com um diplomata que conhece o assunto. Resumiu assim: "Se acontecer mesmo, estaremos trocando uma nota de R$ 100 por quatro de R$ 20. Você tem mais notas, mas valem menos."

Há mais: deve haver uma boa razão para a China preferir o seu status de "país em desenvolvimento" em vez de integrar a OCDE sob a pena de perdê-lo. A menos que alguém considere que os chineses não sabem fazer negócios e de que temos lições a lhes dar.

É uma piada: o Brasil foi aos EUA, entre outras razões, para reivindicar o fim do veto à sua entrada na OCDE e foi ele a fazer concessões. De resto, a aceitação naquele grupo depende da concordância de outros países. Ganhamos o quê? Nessas condições, a chance concreta é de perda. Vai ver, além de sermos mais espertos do que os chineses, também somos mais sábios do que os sul-coreanos.

Trump acena ainda com a possibilidade de o Brasil ser um aliado prioritário extra-Otan. Serve para a cooperação militar e eventual acesso a tecnologia nessa área. É um troço irrelevante. Mas, ora vejam, Trump acenou até mesmo com a possibilidade de o Brasil fazer efetivamente parte da aliança militar. Opa! Aí a coisa ficaria mais séria porque isso abriria a possibilidade de o país participar efetivamente de guerras mundo afora, não é mesmo? Bem, nesse caso, torça-se, então, pela irrelevância. (…)

O potencial ganho econômico da ida de Bolsonaro aos EUA fica abaixo de zero, no negativo, porque, caso realmente ocorra a renúncia a prerrogativas na OMC, os cofres sairão perdendo.

Que coisa, né? Acho que Mike Pompeo nos livrou de um mau arranjo, ditado pelo deslumbramento e pela vontade de servir.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.