APB: leis inviabilizam assinaturas digitais e Fundos Partidário e Eleitoral
O Tribunal Superior Eleitoral vai dizer se é uma corte que segue o que está escrito na lei ou se não se distingue daquele ajuntamento que serviu primeiro a Hugo Chávez e depois a Nicolás Maduro na Venezuela. A minha aposta é a de que o tribunal, presidido pela ministra Rosa Weber, fará a coisa certa.
Para habilitar seu partido para as próximas eleições, Bolsonaro precisa, até março, da assinatura de 500 mil eleitores, segundo algumas regras: têm de estar distribuídos em ao menos um terço dos Estados, com, no mínimo, 0,1% do eleitorado em cada um. Não é impossível, mas não é fácil. Por isso, o "APB" entrou com um pedido para que o tribunal aceite assinatura eletrônica.
Pode? Resposta: não!
Segundo o Parágrafo 1º do Artigo 9º da Lei do Partidos, a 9.096, "a prova do apoiamento mínimo de eleitores é feita por meio de suas assinaturas, com menção ao número do respectivo título eleitoral, em listas organizadas para cada zona, sendo a veracidade das respectivas assinaturas e o número dos títulos atestados pelo escrivão eleitoral".
Inexiste estrutura para certificar a assinatura eletrônica.
Observem: até acho que se devem adotar os procedimentos necessários para que essa e outras certificações possam ser feitas por meio digital. Não é o que está na lei. Que seja mudada. Mas não com o propósito de facilitar a criação de um partido em particular.
Bolsonaro também vai brigar para levar a parcela do Fundo Partidário e do Fundo Eleitoral correspondente aos deputados federais que migrarem para a sigla.
De novo, voltamos às regras do jogo. A lei é explicita. A distribuição do Fundo Partidário se dá com base no número de votos obtidos pela legenda na eleição para a Câmara. O Fundo Eleitoral, de acordo com lei aprovada em 2016, é distribuído segundo o tamanho da bancada eleita.
O único benefício que os parlamentares que migram para uma nova legenda carregam é o tempo no horário eleitoral. Nesse caso, diz a lei, "prevalecerá a representatividade política conferida aos parlamentares que migraram diretamente dos partidos pelos quais foram eleitos para o novo partido político, no momento de sua criação".
Com risco de não disputar a eleição no ano que vem e sem fundo eleitoral e fundo partidário, qual será o elemento de atração da nova sigla? Bolsonaro tem mais três anos de mandato. E foi convencido pelo seu guru que está vivendo apenas o prelúdio da revolução reacionária — que eles dizem ser "conservadora".