Nova Previdência e Lula livre não interferem em avaliação sobre o governo
Não deixa de ser curioso que dois eventos importantes — uma de acento particularmente econômico e outro político — tenham mexido pouco com o ânimo dos brasileiros. Refiro-me à reforma da Previdência e à liberdade de Lula.
A reforma não elevou a rejeição ao governo. Tudo indicava que assim seria, já que o Congresso aprovou as mudanças praticamente sem pressão das ruas. Convenham: não é o padrão em países que mudam a Previdência. Vejam o caso da França, por exemplo. As pessoas com um mínimo de bom senso deveriam ser gratas ao Congresso por isso. Em vez disso, uma fatia a esta altura inexpressiva da extrema-direita foi demonizar, neste domingo, uma vez mais, lideranças do Parlamento.
Eis aí mais um elemento de reflexão para as esquerdas — em particular, para o PT. Ao deixar a cadeia, Lula carregou nas tintas contra a mudança. Já deve ter percebido que o potencial da questão para mobilizar a população contra o governo é reduzido.
O "Lula Livre", note-se, não mexeu com o ânimo da população como apostavam alguns. Havia certa crença na extrema-direita de que o episódio voltaria a incendiar as ruas. Não aconteceu. O protesto deste domingo contra o Supremo e em favor da prisão depois da condenação em segunda instância foi um mico. E não houve a corrida para Bolsonaro, indicam os números da pesquisa Datafolha.
Não será a economia a pôr o governo numa situação desesperadora. Mas nada indica que virá um ciclo pela frente que lhe garantirá uma reeleição tranquila. O ideal seria que o confronto se desse na política. Mas o Brasil anda viciado em polícia, como se sabe.
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