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Reinaldo Azevedo

Barroso agora vê conspiração contra Fachin e defende acordo com Joesley Folgadão

Reinaldo Azevedo

29/05/2017 06h14

Roberto Barroso: seus argumentos são, às vezes, tão esvoaçantes como a sua toga (Foto: Arquivo)

O ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo, é mesmo um homem de conceitos singulares. Ele concedeu uma entrevista ao Blog do Josias e conseguiu a quadratura do círculo. É como se Barroso celebrasse o entendimento entre a raposa e as galinhas, entre a corda e o pescoço, entre os guelfos e os gibelinos. Ele deixa claro que é um paladino na luta contra a impunidade. Entendo! Mas acha que Joesley Folgadão deve continuar com os benefícios, em rima com o seu irmão…

O doutor resolveu ignorar os fatos e partir para teorias conspiratórias. No momento em que o país se escandaliza com a mamata concedida a Joesley e sua turma por Rodrigo Janot, procurador-geral da República, e Edson Fachin, relator do petrolão e, como direi?, vazador togado, eis que surge Barroso para denunciar um suposto "cerco" a Fachin.

E tal cerco seria caracterizado por qual coisa? Os que defendem que o acordo seja submetido ao plenário do Supremo estariam nessa. Os que entendem que Fachin não pode ser o relator do caso JBS também… Ora, ministro!!! Mais: sobre rever os benefícios concedido a Joesley, diz: "Seria uma deslealdade do Estado, uma vez obtida a informação, não honrar o compromisso que assumiu".

Huuummm… Então vamos ver.

Comecemos pela "deslealdade"

Duas semanas depois de seu advogado ter tido uma aula de delação premiada com um procurador e uma delegada da PF, Joesley mete um aparelho no bolso e grava, sem autorização judicial, uma conversa com o presidente da República. Mesmo que não fosse o presidente Temer, mas outro qualquer, tal gravação não poderia ser usada em juízo. Por quê? Gravações de conversa só podem ir ao tribunal como prova de inocência ou evidência de que a pessoa está sendo, de algum modo, coagida. Não há exceções.

Bem, Janot não quis nem saber. Usou a gravação e a suposta anuência de Michel Temer com uma cala-boca dado a Eduardo Cunha por Joesley para inscrever o caso JBS no petrolão. E não é. Até porque, convenham, não está na dita-cuja aquilo que disseram que estava.

Mas falemos mais de "lealdade" do Estado. Janot conseguiu arrancar de Fachin autorização para procedimentos policiais que são próprios de quando a delação já está celebrada. E ainda não estava. As ditas "ações controladas" — que estão mais para flagrante armado — fizeram parte da conspirata para derrubar o presidente, conforme queriam as esquerdas, aliadas ideológicas de Fachin, não custa lembrar.

Tudo isso que vai acima caracteriza a mais escancarada ilegalidade. Um procurador-geral da República não pode usar, com anuência de um ministro do STF, uma gravação ilegal com o fito de criminalizar o presidente.

Como explicar a vida folgada de Joesley, irmão e executivos? Ora, o MPF queria a cabeça do presidente. Armou-se o bote. Fachin serviu a operação, e Cármen Lúcia a endossou. E o ministro Roberto Barroso vem falar em "lealdade" do Estado com Joesley? E a lealdade mínima devida a Michel Temer, ainda que fosse só um cidadão comum?

Relator e pleno

Fachin não pode ser o relator desse caso. É simples assim. Nada tem a ver com petrolão. O ministro outorgou a si mesmo tal papel, com a conivência de Cármen Lúcia. E por que submeter o acordo ao Pleno? A resposta é simples: o, por assim dizer, polo oposto da delação de Joesley é ninguém menos do que o presidente da República, não? E as questões que dizem respeito aos respectivos presidentes dos Poderes devem ser analisadas pelo Pleno.

Que parte não se entendeu até agora?

O mais espantoso é que, ao defender que Joesley Folgadão e seu irmão que rima fiquem livres, leves e soltos, diz o doutor: "A verdade é que um país não pode ir mudando o Direito conforme o réu. Isso não é um Estado de direito, é um Estado de compadrio". É mesmo? E como explicar a diferença de tratamento dispensado a, respectivamente, Marcelo Odebrecht e os irmãos Batista?

Marxista

Barroso é um marxista da linha "Groucho". Ele quer o fim do foro especial para parlamentares — ele se restringiria aos crimes cometidos apenas no exercício do mandato. Todo o resto iria para a primeira instância. Sei. É um ouro de tolo bem atraente esse. Vamos ver.

Fatalmente, uma eventual condenação do parlamentar acabará chegando ao… Supremo.

Querem mais? Pois não! Um deputado ou senador, a menos que se mude a Constituição, só pode ser preso em flagrante. Logo, a ser como quer o doutor, o fim do foro especial concorrerá para alargar o tempo até o julgamento final.

E o homem vai além. Lê-se no blog:

Se nada for feito, admitiu Barroso, o escudo do foro privilegiado pode resultar na generalização da impunidade nos casos que envolvem detentores de mandato na Lava Jato. "Se isso acontecer seria muito ruim", afirmou o ministro. "Portanto, é importante encontrar mecanismos que impeçam." Existe o risco?, perguntou o repórter. E Barroso: "Certamente."

Como se nota, Barroso, o nosso Groucho Marx sem graça, sugere que o clube que o abriga, o STF, é um valhacouto de contumazes promotores da impunidade. É o fim da picada! O que vai acima, com a devida vênia, é tão tolo que nem errado chega a estar.

Quanto ao mais, ele surfa na onda. Sugere que existe uma espécie de conspiração em favor da impunidade. Mas defende a vida folgazã de Joesley e sua trupe.

Ele cobra que o Estado seja leal, mas justifica o coquetel de ilegalidades que vitimou Temer.

Eis aí: vamos apoiar Barroso! Todo o poder a Joesley! Em nome do fim da impunidade!

Que nojo!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.