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Reinaldo Azevedo

Temer diz não responde questões, pede arquivamento de inquérito e afirma que sofre ‘abusos e agressões’

Reinaldo Azevedo

09/06/2017 18h28

Na Folha:

O presidente Michel Temer não respondeu às 82 perguntas formuladas pela Polícia Federal no inquérito que o investiga e afirmou que está sendo alvo de "um rol de abusos e agressões" que atingem seus direitos individuais.

Na avaliação de sua defesa, "há perguntas verdadeiramente invasivas e, portanto, inoportunas, que procuram simplesmente entrar na vida pessoal do presidente afrontando sua intimidade."

O advogado de Temer, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, pediu ainda o arquivamento do inquérito. O presidente é suspeito de corrupção passiva, obstrução da Justiça e organização criminosa.

O prazo para o envio das respostas terminou às 17h desta sexta (9). Temer havia pedido ao ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), para suspender a formulação das perguntas até a conclusão da perícia oficial em um áudio gravado pelo dono da JBS Joesley Batista, que deu início às investigações. O ministro negou o pedido, mas destacou que o presidente tinha o direito de não responder as questões.

Segundo a Folha apurou, Temer cogitou inicialmente responder parte das perguntas, excluindo as referentes ao áudio, as que se referiam a período anterior ao do atual mandato e as de conteúdo considerado pessoal.

A defesa avaliou, no entanto, que quaisquer respostas, por mais genéricas que fossem, poderiam gerar interpretações da Procuradoria-Geral da República (PGR) e fortalecer uma provável denúncia contra o peemedebista.

MUNIÇÃO

Nas palavras de um assessor presidencial, em meio a uma queda de braço com a PGR, o presidente evitou dar "mais munição" ao procurador-geral, Rodrigo Janot.

No documento entregue ao STF, a defesa de Temer afirma que, entre as 82 perguntas, houve "indagações de natureza pessoal e opinativa", que partiram de hipóteses e suposições, que são sobre relacionamentos entre terceiros ou que não dizem respeito ao exercício do atual mandato.

"[As questões] Demonstram que a autoridade, mais do que preocupada em esclarecer a verdade dos fatos, desejou comprometer o sr. presidente da República com questionamentos por si só denotadores da falta de isenção e de imparcialidade por parte dos investigadores."

ÁUDIO

O advogado de Temer voltou a questionar a legalidade da gravação feita por Joesley e seu uso como prova.

"As perquirições a respeito do local, da data, dos motivos dos encontros e do maior ou menor grau de relacionamento são verdadeiras bisbilhotices, impróprias para um inquérito que procura desvendar a verdade. Dentre tais perguntas, algumas se referem a pessoas estranhas aos fatos, algumas até desconhecidas pelo presidente."

Como exemplos, são citadas perguntas sobre a relação do presidente com o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), preso desde o dia 3, e sobre o encontro com Joesley no Palácio do Jaburu, na noite de 7 de março.

"É incrível, mas deseja-se atribuir ao presidente poderes adivinhatórios, ao se perguntar se ocorreu determinado encontro entre duas pessoas, sem a sua presença", alega a defesa ao rebater uma questão sobre um encontro entre Joesley e Rocha Loures.

"Uma investigação criminal não é um procedimento fiscalizatório. Não é um ato de prospecção. A 'notitia criminis' é o ponto de partida e o ponto de chegada. Investiga-se o que ela contém, e não mais. Não se parte de uma pessoa, de um alvo eleito a esmo para, então, escarafunchar a sua vida à cata de algum escorregão, de uma falta, de uma nódoa", diz a defesa do presidente.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.