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Reinaldo Azevedo

Cármen, que cedeu a populismo da Lava Jato, reage a agressão. Reação tardia, mas necessária

Reinaldo Azevedo

06/09/2017 06h24

Cármen Lúcia: infelizmente, ministra demorou a reagir a alguns desmandos. Bem, antes tarde do que nunca

Terá caído a ficha da ministra Carmen Lúcia? Terá ela agora noção clara das barbaridades que andava endossando? Quem sabe esteja até um pouco arrependida das vezes em que se deixou cair presa de certo apelo populista, para o qual a empurrava a Lava Jato?  Penso que a doutora percebeu o tamanho da ousadia.

A presidente do STF gravou um pronunciamento. Falou o seguinte:
"Ontem, o procurador-geral da República veio a público relatar fatos que ele considerou gravíssimos e que envolveriam este Supremo Tribunal Federal e seus integrantes. Agride-se, de maneira inédita na história do país, a dignidade institucional deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes.

Impõe-se, pois, com transparência absoluta, urgência, prioridade e presteza a apuração clara, profunda e definitiva das alegações, em respeito ao direito dos cidadãos brasileiros a um Judiciário honrado.

Enviei agora ao diretor-geral da Polícia Federal e ao procurador-geral da República ofícios exigindo a investigação imediata, com definição de datas para início e conclusão dos trabalhos a serem apresentados, com absoluta clareza, a este Supremo Tribunal Federal e à sociedade brasileira, a fim de que não fique qualquer sombra de dúvida sobre a dignidade deste Supremo Tribunal Federal e a honorabilidade de seus integrantes."

Pois é… Esse deveria ter sido o padrão seguido por Carmen Lúcia a cada vez que se agrediu o devido processo legal. Ou essa questão não está dada desde o começo? Infelizmente, a ministra acabou coonestando uma operação contra o presidente da República que era absolutamente heterodoxa. Quando se deu sinal verde para as tais ações controladas, o que se tinha, para qualquer observador mais atento, eram flagrantes armados. Pior: a operação nasceu com o sr. procurador-geral a escolher o relator.

E, meus caros, dizer o quê? Os viciados e viciosos resolveram expandir os seus domínios.

A fala de Joesley Batista sobre o Supremo é asquerosa e evidencia, ela sim, a determinação de obstruir a investigação. E qual era o plano criminoso? Levar à lona os Três Poderes da República. Vamos lembrar o que disse Joesley, referindo-se a José Eduardo Carodozo, ex-ministro da Justiça:
Joesley:- Ele [não fica claro de quem Joesley fala] ficou enlouquecido com o Zé Eduardo.

Saud: Ele acha que o Zé Eduardo é o melhor caminho para chegar ao Supremo.
(…)
Joesley – Ricardinho, eles vão dissolver o Supremo. É o seguinte, Ricardinho. Eu vou entregar o Executivo, e você vai entregar o Zé. E o Zé vai entregar o… Eu, para mim, sabe o que é que é? Sabe o que nós tem de fazer com o Zé? Na miúda, eu, pra mim, não tem de falar mais nada com o Zé. (…) Vou ligar eu direto para o Zé e falar: "O Zé, vem aqui, vem… O Zé, é o seguinte: você precisa de trabalhar conosco. O Zé, nós precisa organizar o Supremo, Zé. Quem nós temos no Supremo?  E aí, na semana que vem, vou chamar o Zé e falar: "Nós temos que organizar o Supremo, Zé. A única chance que nós tem de sobreviver é isso. Você tem quem? A, B, C, D, E, F. Tá! Como é cada um? Ah, o A é isso, o B é isso… O D… Qual a influência que você tem nesse? E nesse? E esse filho da puta, como é que é? Como é que nós grampeia? O Zé vai entregar tudo. Nós vai falar de dois só. Nós só vai entregar o Judiciário e o Executivo, só"

Fazendo ironia, Joesley prossegue: "Não é muito. O Legislativo já se fodeu. A Odebrecht moeu o Legislativo."

E Joesley conclui: "Nós vamos sair amigos de todo mundo, e nós não vamos ser presos. Pronto. E nós vamos salvar a empresa".

Eis aí.

Eis o homem com quem Rodrigo Janot celebrou o mais vantajoso acordo de delação premiada de que se que se tem notícia.

Não há como. Não há o que salvar nesse acordo. Mas, sabem como é… Há quem não aprenda nada com a experiência: por teimosia, burrice ou vício, não sei bem.

Nesta terça, Edson Fachin homologou a delação de Lúcio Funaro, com a qual Rodrigo Janot pretende alvejar uma vez mais o presidente. Poderia ter chamado o concurso de seus pares. Fez tudo sozinho. De novo!

Vai ver Fachin está gostando do resultado.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.