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Reinaldo Azevedo

Olhem! Há um tucano sendo corajoso! É notícia! Como quando o menino morde o cachorro!

Reinaldo Azevedo

27/09/2017 15h50

Aloysio Nunes: um senador com a coragem de dizer "o é da coisa"

Aloysio Nunes Ferreira, senador licenciado (PSDB-MG) e ministro das Relações Exteriores, é um tucano de coragem. E isso, por si só, já é notícia. Fosse o tipo de emplumado que se acoelha — para ficar nessas metáforas zoológicas —, não renderia lead. Como na máxima: se o cachorro morde o menino, não é notícia; se o menino morde o cachorro, então é.

Ele publicou a seguinte nota no Twitter:
"O ministro Fux permitiu-se zombar do senador Aécio na conclusão do voto que lhe impôs penalidade não prevista no direito brasileiro". Segue a imagem.

Sim, é verdade! Antes que lembrem, eu lembro: Aloysio é um dos acusados na Lava-Jato. Isso precisa ser visto à luz da forma como bandidos travestidos de justiceiros andam a aplicar o direito de acusar sem provas. Quando e se chegar a hora de apresentar a sua defesa, ele o fará. Meu ponto é outro. Estou falando sobre "coragem".

Entrei na página do PSDB para ver se existe algo sobre a decisão estúpida da Primeira Turma. Nada!

Procurei saber se a bancada do partido no Senado emitiu alguma nota de protesto. Nada!

Procurei saber ser a bancada do partido na Câmara emitiu alguma nota de protesto. Nada! E, nesse caso, a pusilanimidade não tem fundo.

Também fui em busca de alguma palavra de Tasso Jereissati, o presidente interino. Nada!

O que está circulando por aí é uma entrevista de Ricardo Trípoli (SP), líder do partido na Câmara, que aproveita o ensejo do afastamento para… fazer proselitismo contra Temer! Vocês entenderam direito! E, claro!, pisar na cabeça de Aécio.

É mesmo um homem valente!

Essa gente parece empenhada em demonstrar que ninguém é tão corajoso contra a vítima como um… tucano.

A manchete da página do partido é esta: "Partidos precisam encontrar narrativas e práticas mais próximas da sociedade, diz FHC". Refere-se a um seminário. Não dá para ter a certeza de que a fala é mesmo do ex-presidente. Esse papo de "narrativa", da forma como passou a ser empregada, é um lixo intelectual e, frequentemente, moral. Não raro, a nova narrativa surge de uma indústria de "fake News". Ah, em seguida, isto: "Projeto de Bauer que obriga preso a pagar tornozeleira é aprovado na CCJ".

Isso está mais "próximo da sociedade", sem dúvida.

Dá para ficar mais próximo: pagar a própria comida.

Mais próximo ainda: pagar aluguel pela cadeia.

Ainda mais próximo: trabalhos forçados — ao velho estilo mesmo.

E olhem que, como diria aquele general golpistas, dá para ir fazendo mais aproximações…

Quando a institucionalidade é arrombada e quando a Constituição é fraudada, como foi nesta terça-feira, aí ninguém dá um pio. Ao contrário até: há uma correria para ver quem ocupa o lugar vazio.

Já escrevi isto aqui e repito: dado o tsunami que colheu o PT, o partido só não acabou porque, à parte uma "avis rara" como Antonio Palocci, existe solidariedade interna. "Ah, solidariedade na bandidagem", grita o antipetista. Nem entro nesse mérito. O moralmente aceitável, até que não se tenha comprovado a culpa, é a solidariedade, sim. Quando a Constituição é violada de forma tão flagrante, a vergonha na cara pede mais do que isso. Pede reação.

Entre a causa e seu aliado, havendo a justa causa ou a causa justa, fique com a causa, claro!

No caso em questão, qual é mesmo a justa causa?

Qual é a causa justa?

Rasgar a Constituição?

Se Aécio é culpado ou inocente, que isso seja decidido quando chegar a hora do julgamento. Uma coisa é certa: Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux não podem mais votar. Eles já condenaram quem nem ainda era réu: antes das provas, antes da apresentação da defesa, fora do devido processo legal.

Como não sou tucano, então falo, não pio, com medinho…

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.