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Reinaldo Azevedo

Rodrigo Maia, pautado para ser o novo Cabral a (re)descobrir o Rio, cumpre agenda anti-Temer

Reinaldo Azevedo

05/10/2017 00h36

Ah, bem… Dizer o quê?

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), erra quando atribui a assessores palacianos a metáfora até meio desgastada de que ele foi picado pela mosca azul. Quem primeiro escreveu isso fui eu, que não sou assessor de ninguém. O texto está aqui. A imagem segue abaixo. Foi publicado no dia 6 de julho.

Reproduzo trechos daquele artigo.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), passou o dia de ontem cercado de moscas azuis. E elas o picavam aqui, ali, acolá… Gente que acompanhou o cerco de perto e as conversas de corredor a que tive acesso me fizeram pensar na "performance sedutora" dos diabos das peças de Gil Vicente ou Padre Anchieta. São canhestros, desastrados, até divertidos na sua parvoíce.

E o que os capetas de segunda grandeza queriam ontem com Maia? Ora, direta ou indiretamente, muitos lhe fizeram o convite para que entregasse o presidente Michel Temer em domicílio, como um motoboy a levar uma pizza ao diretório do PT, e buscasse articular a sua própria ascensão à Presidência pelo Colégio Eleitoral.

O que isso quereria dizer na prática? Na narrativa de corredores, que me parece aloprada, o relator da denúncia contra Temer na CCJ da Câmara, Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), considerado próximo do presidente da Casa, faria um relatório recomendando a continuidade do processo. Tal texto seria aprovado por maioria simples na CCJ, e isso ensejaria um desembarque em massa da base aliada, com os tucanos atuando como VRU: Vanguarda do Retrocesso dos Urubus.
(…)
Silêncio ambíguo
Conversando com pessoas que dizem ter conversado com Rodrigo Maia — e ouvi o mesmo de várias fontes —, fiquei com a impressão de que o presidente da Câmara não deixou suficientemente claro que não ambiciona o lugar de Temer. Muita gente saiu com a convicção, que considero, em princípio, erro de interpretação, de que o presidente da Câmara não rejeita a ideia.

Bem, o meu conselho? Que fale com mais clareza quem é seu candidato a concluir o mandato, desautorizando especulações doidivanas, vindas até da esquerda. Ontem à noite, Lula afirmou, num evento com petistas, que os companheiros não devem se conformar com a possibilidade de que Maia substitua Temer. Segundo o chefão do partido, todos são golpistas. Ele quer eleições diretas.

Retomo
Depois, naqueles dias, ele foi almoçar com um vice-presidente da Globo — eu o aconselho a almoçar menos ou, ao menos, a variar o cardápio de convivas — e voltou dizendo que "gente muito importante" achava que Temer, se sobrevivesse à primeira denúncia, não sobreviveria à segunda. A primeira opção dos golpistas era Cármen Lúcia. Maia passou a ser a segunda.

Agora que se foram as esperanças de deposição de Temer, resta tornar a sua vida um inferno até as eleições de 2018. E Maia cumpre direitinho o seu papel.

Dia desses, nós o vimos a dizer que achava que o governo tinha, no máximo, 200 votos para a reforma da Previdência. Depois, em entrevista ao jornal Valor Econômico, do grupo Globo (varie o cardápio, deputado!), afirmou que não tinha sido picado pela mosca azul e que não tentara derrubar o presidente. Aproveitou para acusar o ex-vice de ter conspirado contra Dilma e deu a entender que ele próprio, puro como as flores, não atuou em favor da queda da petista. Dizer o quê?

Dilma caiu legalmente. E Maia foi, sim, entusiasta da causa, em parceria com Eduardo Cunha, de quem chegou a ser fiel escudeiro. Por um tempo ao menos. Quando o outro caiu em desgraça, seria capaz de dizer: "Cunha? Quem é esse?"

Quem tem Cunha no passado deveria ter, se não medo, ao menos cuidado.

Agora, o homem volta. Continua a fazer previsões. Diz que o governo terá dificuldades para fazer com que a Câmara rejeite a nova denúncia. E isso depois da escandalosa desmoralização de Rodrigo Janot; depois de terem ficado claras todas as ilegalidades e indignidades cometidas; depois de evidenciar a cadeia criminosa que se armou para derrubar o presidente.

Sabem o que acho curioso? É Maia falar em acordos não-cumpridos. Pergunto: quais acordos? O que diferencia o doutor do mais virulento, vamos dizer assim, chantagista que pertencesse ao sempre malhado Centrão? Ou alguém ignora que o presidente da Câmara se torna especialmente duro quando o presidente se torna alvo?

Dia desses, um amigo me perguntou: "Maia quer derrubar Temer agora?" Ao que respondi: "Não! Acho que ele e alguns golpistas, seus amigos e interlocutores, agora se empenham apenas em fabricar um placar mais apertado do que o da votação anterior. Afinal, o Brasil está em franca recuperação econômica, em razão de medidas adotadas pelo governo, e não se deve dar àquele que tentaram derrubar em uma semana a chance de se recuperar."

Maia só é presidente da Câmara porque contou com apoio do governo Temer. Também se vendeu à imprensa que sua agenda seria institucional, à diferença do Centrão, que seria fisiológico. Hoje, ele passa os dias com a faca no pescoço do presidente. Deveria tomar cuidado. "Gente importante" do Rio de Janeiro já inventou antes um Sérgio Cabral administrador exemplar. Vejam a pindaíba a que Cabral e "gente importante" conduziram o Estado.

Na manifestação mais agressiva do presidente da Câmara, eu o vi como chefete de facção, a reclamar que o PMDB estava roubando dissidentes do PSB que, sei lá por quê, ele julgava seus. Ah, sim: ao Valor Econômica, com deselegância característica e tentativa desastrada de humor, disse que sua mãe, Mariangeles Ibarra Maia, gosta de Temer. Reproduzo a grosseria:
"Não sei o que aconteceu que ela [a mãe] gosta do presidente Michel Teme. mas como é chilena, então, coitada, nem pode contabilizar a favor".

Bem, o segredo de aborrecer é dizer tudo. Admirar Temer é certamente o lado ortodoxo da mulher que CASOU com César Maia. Rodrigo já tinha 20 anos em 1990, quando seu pai, César, desafiando Brizola, foi à rua distribuir panfletinhos em defesa do… Plano Collor!

Mesquinharias
Pois não é que o doutor usa a posição só alcançada com a ajuda de Temer para alvejar o presidente, sendo instrumento, agora, de algumas mesquinharias de quem prometeu ao público aquilo que não pode entregar?

Ah, sim: ao Valor, para provar que não é golpista, disse que Temer só não caiu porque ele, Maia, resistiu à tese tucana do desembarque. Falso! Vamos ver agora. À época, o desembarque contou com menos da metade da bancada do PSDB. Ainda que assim fosse: se alguém um dia salvar a sua vida, leitor amigo, ela, a sua vida, não passa a ser propriedade de salvador. Nem você deve se sentir obrigado a ser escravo do outro.

Se Maia quiser enviar ao blog a lista de demandar que tem com o governo, lerei com carinho. Uma coisa é certa: não gosto dessa sua mania de fazer palestra para representantes do mercado, posando de fiscalista radical, mas depois, com passos lentos e pesados, com a pachorra dos calculistas, afirmar: "Ah, acho que a reforma da Previdência terá apenas 200 votos"…

Para encerrar, acrescento que ele nada fez em favor de uma reforma política realmente substantiva. Quando meia-dúzia de reaças saíram berrando contra isso e aquilo, retirou o time de campo e permitiu que o voto distrital misto naufragasse junto.

Não sou e não serei político. Aquele meio não me interessa. Mas já vivi mais do que Maia. Ele é bem mais antigo do que pensa.

Encerro com uma advertência: cuidado, deputado, com os Pigmaleões que se consideram escultores de políticos, dando-lhes vida depois. Não se candidate a ser um novo Sérgio Cabral, o Rei do Rio.

Talvez Maia tenha razão. Não é mosca azul. É sabotagem mesmo!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.