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Reinaldo Azevedo

Huck presta um desfavor aos brasileiros ao comparar ações políticas a sereias: Soletrando 2

Reinaldo Azevedo

27/11/2017 08h15

Parece Ulisses, mas é Luciano Huck resistindo ao canto das sereias. Pediu para ser amarrado…,

Luciano Huck não pode se comparar a Ulisses porque este não apareceu, assim, do nada, não é? A metáfora escolhida por sua vontade ou que lhe foi por outrem soprada ao ouvido não é nada lisonjeira com a política. As sereias que cantam — das quais Ulisses tem de se proteger sendo amarrado ao mastro, e sua tripulação, tapando os ouvidos com cera — estão lá para retardar o desiderato do herói, para tentar impedi-lo de alcançar seu objetivo, que é voltar a Ítaca, a sua ilha.

Luciano presta um desfavor à formação dos brasileiros quando associa a política às sereias, como se tal atividade reunisse, então, apenas os ardilosos, aqueles que estão aí para seduzir no sentido mais negativo da expressão, para afastar os brasileiros de seu verdadeiro caminho. Com a devida vênia, se sereias existem nessa história, elas surgem justamente na forma dos políticos que se dizem não-políticos e dos não-políticos que chegam à política para exercitar a não-política que é só uma forma de… política!

Ademais, candidato ou não, a verdade é melhor do que essa conversa de cerca-Lourenço: ele passou a se reunir, com frequência, com um grupo de políticos e, digamos, pensadores de sua candidatura. Foi ele que passou a levar a coisa a sério. Ninguém o fez em seu lugar. Tanto é assim que, como vai no texto, foi preciso que o círculo familiar o demovesse.

Não faz sentido essa conversa de "Ah, sei lá, queriam que eu fosse candidato, e eu me pergunto por quê…" Errado! Luciano achou que poderia ser candidato, o que desestimulei vivamente numa coluna publicada na Folha, cujo título era este: "Luciano ajuda longe da urna; não pode ser nome palatável do medo de pobre". Escrevi, então, naquele texto:
"Notem que Luciano já é refém, ainda que involuntário, de "Ozmercádus", como Doria foi um dia. É esse ente quem diz: "Precisamos de alguém para enfrentar Lula ou o ungido de Lula". Ou, como afirmou um desses gênios com os dois pés no chão e as duas mãos também, só ele poderia fazer o povão aderir à reforma da Previdência. O raciocínio embute a tese mentirosa de que a dita-cuja seria ruim para os pobres, mas que o apresentador poderia trapaceá-los, fazendo parecer coisa boa."

Não tinha como dar certo. Até porque não considero que Luciano estivesse movido por má-fé, mas apenas pelo equívoco.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.