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Reinaldo Azevedo

Tasso desiste e tenta impor a renúncia a Perillo, seu adversário; Alckmin pode assumir

Reinaldo Azevedo

27/11/2017 17h29

Alckmin pode ser candidato único ao posto de presidente do partido, como quer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Foto: divulgação-PSDB

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se reúne nesta segunda, às 20h30, com Marcone Perillo, governador de Goiás, e com o senador Tasso Jereissati (CE). No cardápio, a presidência do partido. Os dois eram postulantes até ontem. Tasso desistiu em nome da suposta unidade partidária. Será mesmo? Alckmin pode ser candidato único ao posto, como quer o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Vamos ver. Desde que assumiu a presidência interina, o senador cearense apostou que conseguiria fazer 50 valer 100, isto é: estava na cara que poderia ter o controle, no máximo, de metade do partido. Com ela, resolveu tomar a outra metade no berro: forçou o partido a sair do governo, pregou abertamente o voto contra Michel Temer na segunda denúncia, fez críticas muito azedas à ala do partido que resistia à sua liderança, apostou em intervenções estaduais para, digamos, "unificar" a legenda segundo a sua vontade. É também um candidato surgido de ultima hora. A postulação de Perillo está posta há mais de um ano.

No fim das contas, qual é o busílis? Essa questão só está colocada porque o senador Aécio Neves (MG) caiu na armadilha do trio Rodrigo Janot, Joesley Batista e Edson Fachin. E, então, mergulhou nos infernos. O pior, ou especioso, é que o STF terá de sambar, pelas mãos de Marco Aurélio, o relator, para fazer de Aécio réu no processo. Janot se esqueceu de demonstrar na acusação que faz onde está o crime cometido pelo senador. Mas voltemos ao ponto.

Desde sempre, os que se alinharam com Tasso tentaram transformar a candidatura de Perillo em um braço de Aécio, o que não é nem verdade nem mentira. Explico. Com efeito, o governador de Goiás não é hostil a Aécio e àqueles que lhe seguem fiéis — não fala, por exemplo, em expulsá-lo do partido, como já chegaram a vociferar os radicais do outro lado —, mas é mais amplo do que isso. Tanto é assim que iria vencer a disputa. E, por essa razão, Tasso renunciou à sua postulação.

E, no caso, tenta-se fazer uma coisa meio engraçada, que consiste em fazer uma renúncia valer por duas. Entenderam o jogo? Tasso entrou na disputa para, bem, vencer o adversário. Tivesse o número de votos necessários, iria até o fim e se comportaria, aí com o poder não mais interino, como tem se comportado na interinidade: impondo a sua vontade e a de seu grupo. Só que ele iria perder. Então, em nome da unidade, resolveu retirar a postulação na esperança de que o outro lado, que se sagraria vencedor, faça a mesma coisa. Ou seja: Tasso quer que a sua renúncia também implique a do adversário. Convenham: é um jeito bastante estranho de fazer as coisas, não?

Então ficamos assim: o senador cearense, na verdade, não queria Perillo no comando do partido. Para tanto, resolveu lançar-se na empreitada. Seus acólitos bateram no peito e ecoaram as palavras de guerra. Diante da eminente derrota, ele não faz o esperado, que é se render altivamente ao vencedor. Não! Ele propõe que ambos renunciem, numa espécie de aplicação prática do chamado "Paradoxo de Dilma", a saber: "Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder".

Alguém seria capaz de jurar ser esse um bom caminho?

Sei lá se Perillo abrirá mão da candidatura. Eu não abriria, mas essa é uma das razões por que não sou político, certo? Sem contar um milhão de outras.

Alckmin terá a conversa. FHC defende que seja ele o presidente do partido. Conciliar tal atividade com a de pré-candidato e depois candidato à Presidência não parece sem simples nem prudente. É evidente que, durante a campanha, terá de se licenciar. E se tem mais problema do que solução. Bem, pode ser um quarto nome. Mas por que Perillo deveria aceitar a retirada? Alguém dirá: em nome da unidade. Mas há unidade quando um lado se recusa a aceitar o nome do outro, que sairia de uma eleição, não de um dedaço?

Estamos, mais uma vez, diante daquelas dissensões inúteis que certos tucanos criam para si mesmos e para o partido. Que vocação!

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.