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Reinaldo Azevedo

A queda de Doria 2: Tucano voava em céu de brigadeiro, e adverti então: “Fique na Prefeitura!”

Reinaldo Azevedo

05/12/2017 13h27

Há certamente descontentamento com áreas específicas da gestão do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que explicam o fato de seu prestígio ter despencado, e a rejeição à sua gestão, disparado: dizem ser ela "ruim/péssima" 39% dos ouvidos pelo Datafolha, contra apenas 29% que a veem como "ótima/boa". Vamos aguardar o detalhamento dos números. Eu, que ando muito de táxi, tenho ouvido críticas crescentemente azedas à zeladoria e ao asfaltamento, por exemplo.

O mal-estar, e alguns podem até considerar má vontade, do paulistano com a gestão é contínuo, constante. Depois de três meses de gestão, 47% diziam que o prefeito havia feito menos do que esperavam. Bem, esse é  "jus reclamandi" de sempre. Se o prefeito fosse o Altíssimo e não fizesse chover maná todo dia, lá estariam os reclamões de sempre: "Esse tal Deus faz muito menos do que o prometido". Moisés, coitado!, viu de perto o que era isso. Deu uma cochilada, e lá veio o bezerro de ouro… O povo nem sempre é justo ou bom. Mas fazer o quê? É para ele que os governos existem, né?

Passados 11 meses, são 83% os que dizem que se sentem frustrados e veem o prefeito a fazer menos do que o prometido. Em nove meses, caiu e 28% para 9% os que dizem que ele atende às expectativas. E despencou de 20% para apenas 4% os que se surpreenderam positivamente. Depois será preciso ver como isso se reflete na avaliação de cada serviço.

Ocorre que esses dados particulares podem levar o prefeito a acelerar o erro de novo. O que o paulistano está a rejeitar, estejam certos, e essa é a crítica que entendo unânime, é a energia do prefeito em deixar o cargo para o qual foi eleito. Em todo canto da cidade se ouve, pouco importam classe, escolaridade e renda, algo como: "Ele quer qualquer coisa, menos ser prefeito".

Eu e minha mania do "bem que avisei", né: Quando se completaram os 100 dias de gestão Dória, com aprovação inédita, escrevi aqui um post cujo título era: "João Doria no Datafolha: aprovação recorde e sinal de advertência". E lá se podia ler:
"Há umas três semanas, conversando ao telefone com um amigo que também é muito amigo do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmei: 'A pesquisa Datafolha sobre os 100 dias ainda não saiu, mas eu já sei que ele baterá recorde de aprovação. E eu vou escrever que isso indica que a maioria dos paulistanos quer que ele continue na Prefeitura'.
Pois é… Nem é preciso que eu diga isso em lugar do povo. Este mesmo o diz em seu próprio nome na pesquisa Datafolha divulgada neste domingo. Mais: espero que os números confiram um pouco de realismo e prudência aos mais exaltados. A pesquisa é muito boa para o prefeito, sim. Mas só um tolo, um imprudente, um irresponsável não veria nos números alguns sinais amarelos de advertência. Doria, felizmente, não é nada disso. Precisa é conter certo alarido que gera muito calor e nenhuma luz.
(…)
O prefeito de São Paulo tem motivos para ficar satisfeito com o seu desempenho. É considerado pela população, nos três primeiros meses, o melhor em muitos anos.
Os sinais de insatisfação, no entanto, estão presentes também. Acho os números bons para Doria, além de realistas, mas os mais entusiasmados talvez se decepcionem e invistam no erro de optar por ainda mais alarido.
Uma sólida maioria quer que o prefeito continue no cargo. Há tempo até a definição da candidatura do PSDB à Presidência, e é evidente que Doria é um dos pré-candidatos. Mas também isso depende da qualidade de sua gestão, certo? Esses três meses levaram a população a considerar que o copo está meio cheio e meio vazio
."

Há ainda outras considerações importantes a fazer, que dizem respeito ás ilusões sobre estes tempos. Aguardem um pouco.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.