“Sem Lula em 2018, eixo da disputa são a economia e discurso “outsider”
Na entrevista que concede à Folha nesta segunda, o senador Romero Jucá (PMDB) dispara, como era de se esperar, alguns petardos contra a Lava Jato e contra Rodrigo Janot, mas está longe de ser a parte mais importante da entrevista. A análise que faz sobre a presença ou não de Luiz Inácio Lula da Silva na disputa é pertinente e aguda. Reproduzo:
Acho que se Lula for condenado, ele deixa de ser candidato. Se for inabilitado, será um cabo eleitoral importante, mas não poderá ser candidato. Lula sendo candidato, o eixo da eleição é o Lula e o anti-Lula. Ele não sendo candidato, o eixo da eleição é muito mais a economia e o discurso dos outsiders.
Observações como essa, com tal poder de síntese e de objetividade, sempre fizeram do senador um analista competente. Está coberto de razão. Notem que o PT tentará o jogo "Lula x anti-Lula" com ou sem o seu homem forte no páreo, uma vez que segue sendo, como observa Jucá, um cabo eleitoral importante. Mas é evidente que essa antítese se esmaece. Por quê?
Uma das forças do discurso lulista são os amanhãs sorridentes, de que ele sabe falar com ninguém, e também a demonização do passado — obviamente, ele atacaria os dois anos e pouco de governo Temer, não os 13 que os antecederam, em que o PT quebrou o país e o conduziu à maior recessão de sua história. Ocorre que o ex-presidente não precisa mexer com números, fatos, dados. Disputa-se a eleição com um símbolo. Nunca é fácil.
Sem ele, o discurso mais técnico, apegado à realidade, tem mais chances. Mas Jucá domina o pensamento complexo e sabe que, sem o petista — um "insider" da política, abre-se mais espaço para o discurso dos "oustsiders", o que não é necessariamente bom para um eventual candidato governista.