Se Lula não for candidato, será do meu agrado. Mas isso deveria me contentar? E a penca de tolices da direita apedeuta
Aqui e ali, ouço e leio políticos a dizer: "Ah, eu preferiria que Lula disputasse a eleição; melhor seria vencê-lo nas urnas." Com a devida vênia, não acredito numa miserável palavra. Os adversários do petista e seu partido — e isso me inclui: um adversário meramente intelectual — preferem é que ele não dispute. Até porque, se disputar, vence. E eu não gostaria de ver a turma de volta ao poder.
Notem: isso não turva o meio juízo objetivo sobre o processo e a sentença. O mundo, infelizmente, não existe para fazer as minhas vontades. Penso que seria justo que assim fosse. Mais: seria um bem para a humanidade. Vale dizer: sou meio louco, como todo mundo, e acredito que, deixada à minha vontade, a realidade seria bem mais agradável.
Mas já não sou mais amamentado, já matei meu pai simbólico, não sou do tipo que sai por aí a disparar "lapsus linguae" a granel. Tenho os meridianos relativamente ajustados. Em suma: já aprendi a distinguir desejo de realidade. Mais: estou preparado para a possibilidade de as pessoas nem sempre cederem ao meu charme, às minhas vontades, às minhas idiossincrasias.
Por isso mesmo, não há contradição nenhuma — ao contrário: há perfeita coerência — em expressar a minha satisfação individual com o fato de que Lula não será candidato, mas, ao mesmo tempo, deixar claro sem subterfúgios ou meios-tons: as provas não estão nos autos.
Conhece-se a máxima: "O que não está nos autos não está no mundo" — ao menos no mundo a que diz respeito o processo em questão. Há gente querendo viver uma nova era: "Se não está nos autos, é porque o futuro condenado conseguiu esconder, e nós não conseguimos achar, mas estamos convictos de que aconteceu".
É o mundo em que os indivíduos entrarão nos tribunais como culpados, cabendo-lhes produzir as provas negativas para evidenciar a sua inocência.
Ah, certamente não vou ficar chateado se Lula não for candidato. Vou é gostar. Mas, ora vejam, bacana e civilizado que sou, não me sentirei seguro numa ordem jurídica que apelasse ao "ato de ofício indeterminado" para punir um indivíduo determinado.
O bloqueio terrestre, aéreo e naval é a expressão sombria dos desastres protagonizados pela Lava Jato (Rodrigo Janot, Deltan Dallagnol e Sérgio Moro) e pela direita apedeuta.