Condenação não abala prestígio eleitoral de Lula, evidencia Datafolha. Mas os tontos continuarão a trocar política por polícia
Os idiotas de todos os matizes (de direita, de centro, de esquerda), de todos os trajes (esportivo, social, toga ou de adolescentóide meio velhusco, com retardo moral, a brincar de "nova política"…), de todas as profissões — e isso inclui o jornalismo — estão brincando com fogo, sim. E esse é um bom modo de se queimar. Notaram como Luiz Inácio Lula da Silva se tornou o redutor de todas as questões do país? Não se discute mais nada que não tenha como referência a figura de… Lula! É um espanto. Até a ministra Cármen Lúcia, num lance de primarismo que só pode ser explicado pela falta de vivência política, pelo provincianismo intelectual e pela arrogância derivada dessa perspectiva apequenada resolveu fazer digressões sobre a pauta do STF tendo, ora vejam, o petista como referência, não é mesmo?
E vem o Datafolha. Para surpresa de ninguém, ou só dos tontos, Lula — ele mesmo! — conserva o seu poder de fogo eleitoral. Não há brasileiro que não o conheça e que não saiba que "ozômi" lá mantiveram por unanimidade a sua condenação, que aumentaram a sua pena e que o querem em cana. Não obstante, seu potencial eleitoral segue praticamente o mesmo. Segundo pesquisa divulgada nesta quarta, se a eleição fosse hoje, ele teria entre 34% e 37% dos votos. Nos cenários em que o nome do ex-presidente é testado, Jair Bolsonaro continua em segundo, variando de 16% a 18%. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.
O suposto arranhão ao prestígio de Lula pode ser ficção. Seus índices, em simulações de segundo turno, variaram dentro da margem de erro. Comparem-se os dados desta pesquisa de agora com os relativos àquela divulgada no dia 4 de dezembro do ano passado. O petista vencia o tucano Geraldo Alckmin por 52% a 30% — agora, por 49% a 30%. Batia Marina Silva, da Rede, por 48% a 35%; desta feita, 47% a 32% — a diferença até pode ter aumentado, passando de 13 pontos para 15 pontos. Os 51% a 33% contra Bolsonaro seriam agora 49% a 32%. Na pesquisa publicada no começo de dezembro, a rejeição ao ex-presidente era de 39%; agora, é de 40%.
O que esperam que eu diga? Hoje, não é apenas o PT a fazer campanha eleitoral em favor do ex-presidente. Também há o juiz Sérgio Moro, os procuradores buliçosos da República, a direita xucra, o antipetismo asinino, o TRF-4, com sua votação concertada — com "c" — mal disfarçando que aquela unanimidade raramente se produziu em dezenas de outros julgamentos; a celeridade de um magistrado do STJ ao negar um habeas corpus. Não chegarei a dizer que o homem nem teve tempo de ler, é claro! Uma coisa me parece certa: não teve tempo de ponderar, ainda que fosse para negar.
É evidente que se trata de uma cascata autoritária, e ainda voltarei ao assunto, esse negócio de que eleição sem Lula é, por si, ilegítima porque, afinal, ele representaria a vontade de milhões de eleitores. Fosse por esse critério, a gente poria fim ao direito penal e reduziria tudo à Justiça eleitoral. Mas convenham: as mulheres e homens de Estado não estão ajudando, não é? Começa a parecer verossímil, embora seja falso, que tudo não passaria de uma trama para tirar Lula da eleição.
Não vejo como Lula possa disputar o pleito de 2018. A menos que a Justiça Eleitoral decidisse passar por cima da Lei da Ficha Limpa. E, ainda assim — o desdobramento é controverso —, entendo que restaria um último apelo ao STF. E creio que Lula perderia. Mas é claro que o PT o manterá candidato, como já afirmei aqui muitas vezes, até para que possa operar a transferência de votos.
Lula sofreu um pequeno abalo nesse quesito. Na pesquisa anterior, 48% diziam não votar de jeito nenhum num candidato que tivesse seu apoio. Agora, são 53%. Votariam com certeza em alguém indicado por ele 27% — na pesquisa divulgada em dezembro, eram 29%. Poderiam fazê-lo 17%; antes, 21%. Sérgio Moro exibe praticamente a mesma influência negativa e positiva: rejeitariam alguém com o apoio do juiz 50% dos entrevistados; seguiriam a sua orientação 25%, e poderiam fazê-lo 22%.
Para encerrar este post: apostaram que a condenação de Lula por Sérgio Moro poria a tampa no caixão. Não aconteceu. Depois se declarou que Lula estava morto e enterrado em razão das denúncias de Antonio Palocci. Não aconteceu. Desta vez, a corda teria sido puxada pelo TRF-4. Não aconteceu de novo! Agora, os tontos torcem para que venha a prisão…