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Reinaldo Azevedo

Bolsonaro se junta a PT contra intervenção; é outra sua proposta antiviolência: ele quer os nossos Nikolas com acesso a fuzis

Reinaldo Azevedo

17/02/2018 08h53

Contra a violência no Rio e no Brasil, Bolsonaro quer no Brasil a mesma lei que faz os Nikolas (de laranja) dos EUA

A reação dos petistas à intervenção na área de segurança pública do Rio é, sim, asquerosa. E, ainda assim, não chega aos pés da vigarice política do deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), pré-candidato à Presidência. Criticou a medida — suponho que vá votar contra; também já anunciou sua oposição à reforma da Previdência… Grande liberal!!! — e ainda ousou se manifestar em nome dos militares. Bem, acho que não preciso dizer que o preclaro não consegue falar nem em nome das próprias ideias. Para tanto, seria preciso que as tivesse.

Eis aí. Bolsonaro é deputado pelo Rio desde 1990. O que ele fez mesmo em favor da segurança pública no Estado, além de vomitar indecências contra os direitos humanos e em favor do armamento? Resposta: nada! Aliás, tente achar um único projeto de sua autoria que tenha sido aprovado. A sua vida partidária, convenham, é expressão de sua coerência política e da solidez de suas ideias e convicções: está agora no PSL. É sua 9ª legenda. Já pertenceu ao PDB, PP, PPR, PPB, PTB, PFL, PP e PSC. É preciso saber reconhecer o mito quando diante de um.

Ah, não! Bolsonaro não quer saber de intervenção. Até porque ele tem propostas muitas efetivas nessa área:
– extinguir o Estatuto do Desarmamento;
– distribuir porte de armas a granel;
– facilitar o acesso do homem do campo a fuzis…

Coisa de gênio.

O candidato a pensador da família, o também deputado federal Eduardo Bolsonaro — ele fala sobre ideologia, esquerda e direita com a habilidade, a destreza e a bibliografia de um dragão de Komodo na Biblioteca Britânica — fez um vídeo no Youtube em que expele barbaridades em meio a um monte de fuzis, que, entende-se, ele gostaria que fossem vendidos no Brasil com a mesma facilidade com que Nikolas Cruz, o atirador da Flórida que matou 14 pessoas, comprou o seu numa loja de Coral Springs, cidade vizinha a Parkland, onde ocorreu o massacre.

A propósito: quando é que os jornalistas investigativos procurarão saber detalhes sobre o financiamento do lobby pró-armamento no Brasil?

E, como se sabe, Bolsonaro tem dois outros filhos na política: um vereador e um deputado estadual.

Assim, pode-se perguntar e responder: além de fazer "bolsonarinhos" e de acumular um patrimônio multimilionário em sua carreira política, o que Jair Bolsonaro fez pela segurança no Rio? Resposta: propõe multiplicar exponencialmente o número de armas no país. O bolsonarismo e seus acólitos acham que o Brasil estará mais seguro no dia em que os nossos Nikolas puderem comprar um AR-15 na esquina.

Aí o boçal de plantão, co

m pretensões a ter um pensamento, levanta as patinhas dianteiras do chão e tenta argumentar, antes de partir para o xingamento e o vomitório de sempre: "Ah, mas arma na mão de bandido pode, né?" Não! É claro que não pode. Ocorre que isso não implica que armar a população seja uma resposta ao crime. Todas as evidências apontam o contrário: a circulação de armas, mesmo entre "as pessoas de bem", é fator de aumento dos atos criminosos. Comparem o número de homicídios por 100 mil habitantes dos EUA com o da Alemanha ou o do Japão, por exemplo, onde é proibido circular até com arma branca. A propósito: a população civil mais armada do mundo é a venezuelana… Caracas é hoje a capital mais violenta do planeta.

Eis aí…

A verdade é que o senhor Bolsonaro, que ainda esta tentando descobrir o que é e para que serve o tripé macroeconômico, não tem ideia nenhuma também na área de segurança. Para ele, o tema é motivo só de proselitismo político e pretexto para expelir reacionarismos e boçalidades.

E, como se nota, mais uma vez, nós o vemos junto com os petistas, todos contra a intervenção.

Já estiveram do mesmo lado contra a reforma trabalhista, contra a terceirização, contra as privatizações, contra a reforma da Previdência…

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.