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Reinaldo Azevedo

Partido dos Sem-Limites: Barroso atende a pedido de delegado Cleyber no dia em que Segovia, inimigo deste último, foi deposto

Reinaldo Azevedo

06/03/2018 04h07

Vejam que coisa!  Quando o governo decidiu trocar o delegado-geral da Polícia Federal, substituindo Fernando Segovia por Rogério Galloro, afirmei aqui que eu não teria feito a troca porque se tratava de ceder, afinal de contas, a uma pressão de setores da própria PF, do Ministério Público e do próprio STF. Roberto Barroso, ora vejam, cobrou explicações do delegado porque, em entrevista, este dissera não haver provas contra o presidente Michel Temer no caso dos portos.

Nota: Segovia disse apenas isso. Em nenhum momento, sugeriu que o caso seria ou deveria ser arquivado. Isso foi apenas uma ilação? Não! Não foi algo muito esperto a fazer, especialmente quando o delegado titular do inquérito atende pelo nome de Cleyber Malta Lopes, seu inimigo pessoal.  Notem: tal inimizade nem acrescenta provas à investigação nem tira. A entrevista seria imprópria ainda que os dois fossem como Cosme e Damião. A grita foi grande. Nunca vi nenhuma entidade sindical dos policiais fazer berreiro quando seus colegas condenam, em entrevistas coletivas, pessoas que nem rés são ainda. O mesmo se diga sobre o Ministério Público.

Ora vejam… Segovia falou a Barroso no dia 19. Teve de prometer que não mais se manifestaria sobre a questão. Quanto rigor o do ministro, não é mesmo? No dia 27, o valente resolveu prorrogar por mais 60 dias o inquérito que apura se o presidente Michel Temer beneficiou a empresa Rodrimar com um decreto sobre os portos. Até agora, não há uma vírgula indicando tal coisa. Mas não parou por aí como já se sabe: atendendo a um pedido de Cleyber Lopes, que não conta com o endosso da Procuradoria Geral da Reepública, o que é absolutamente atípico, Barroso resolveu quebrar o sigilo bancário de Temer, estendendo tal procedimento até 2013, período em que ele nem era presidente da República.

Cansei de ler, e vocês também, que a nomeação de Segovia teria sido uma tentativa de Temer de, ora vejam!, barrar a Lava Jato (ninguém disse como…) e de tentar interferir no tal inquérito, como se a indicação para o comando da PF de um adversário do delegado titular de uma investigação que envolve o presidente fosse um bom caminho para isso.

Eis aí. A substituição de Segovia por Galloro foi uma tentativa de pacificação, para evidenciar que o governo não interfere, nem quer dar tal impressão, em investigação de nenhuma natureza. Foi, em suma, um ato de boa-fé — ainda que, para o delegado que perdeu o posto, a decisão não tenha sido a mais jeitosa.

Com essa gente, esse tipo de comportamento lhano é inútil. Acho que é de Millôr Fernandes — ou alguém me corrija — a frase sobre certo sujeito "prudente" que, depois de chegar ao limite, dava mais um passo… Assim é Barroso. Assim são hoje esses que chamo membros dos "Partidos da Polícia". No dia em que Segovia caía, Barroso quebrava o sigilo bancário do presidente nos últimos cinco anos, a pedido do delegado Cleyber, depois de o ministro ter estendido a investigação por mais 60 dias já que nada havia e nada há contra o presidente nesse caso….

Quem sabe se possa apontar como "estranha" alguma coisa nas contas, vazando o dado para a imprensa, para que se tente alimentar um pouco mais o noticiário contra Temer. Ainda que se evidencie depois que nada há de errado nas contas, mantém-se a pressão por mais tempo.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.