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Reinaldo Azevedo

Não existe “encontro fora da agenda” para os respectivos presidentes dos 3 Poderes; basta consultar o que dispõe a Lei 12.813

Reinaldo Azevedo

12/03/2018 04h11

Há muita gritaria cretina e moralismo barato sendo expelidos aqui e ali sobre o encontro entre o presidente Michel Temer e a ministra Cámen Lúcia, que preside o Supremo.

Nem Temer nem Cármen estão obrigados a divulgar sua agenda. A lei que trata do assunto, ainda que de modo lateral, é a 12.813, que busca coibir conflito de interesses. No Artigo 11, lê-se:
"Art. 11.  Os agentes públicos mencionados nos incisos I a IV do art. 2º deverão, ainda, divulgar, diariamente, por meio da rede mundial de computadores – internet, sua agenda de compromissos públicos."

E quais são as autoridades a tanto obrigadas? As listadas nos Incisos I a IV do Artigo 2º. Lá se diz que estão submetidos à lei os seguintes cargos ou empregos:
I – de ministro de Estado;
II – de natureza especial ou equivalentes;
III – de presidente, vice-presidente e diretor, ou equivalentes, de autarquias, fundações públicas, empresas públicas ou sociedades de economia mista; e
IV – do Grupo-Direção e Assessoramento Superiores – DAS, níveis 6 e 5 ou equivalentes.

Como se vê, não estão ali incluídos os respectivos Presidentes dos Três Poderes. Logo, para efeitos legais, não existe "encontro fora da agenda" para nenhum deles. Não fosse a lei, há o óbvio: se o presidente quisesse acertar alguma tramoia com Cármen, precisaria encontrá-la pessoalmente?

Ademais, encontros de comandantes máximos de dois Poderes têm, por si, um apelo institucional. Mas me pergunto: o que fazia um procurador-geral da República num boteco, em meio a caixas de cerveja, num bate-papo com o advogado de um empresário multibilionário, que havia obtido da dita autoridade a carta da impunidade?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.