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Reinaldo Azevedo

A MORTE DE MARIELLE 3 – Humorista sem graça do Coletivo 342 orou: “Alguma coisa, de fato, precisa acontecer”. O diabo ouviu

Reinaldo Azevedo

15/03/2018 08h56

https://www.youtube.com/watch?v=AOVnN6cXAlo

No vídeo doidivanas do tal Coletivo 342, uma fala tem potencial especialmente perigoso, sem que se saiba direito para que lado: a do humorista Gregório Duvivier. Sem que se conhecessem ainda ações das forças de intervenção, que nem haviam começado a atuar, diz o rapaz:
"Eu sei que parece que pior que tá não pode ficar. Alguma coisa, de fato, precisa acontecer".

A fala é genérica, irresponsável, irrefletida, um tanto apocalíptica.

"Alguma coisa" é, no caso, sinônimo de "qualquer coisa".

E ele pede que seja "de fato"!

Gregório diz que a tal "alguma coisa", vejam vocês, "precisa acontecer". É um imperativo!

O quê? Parece pregar alguma forma de ação direta.

Com um pouco só de cultura religiosa, mesmo sem crer, em substituição a seu anticristianismo rastaquera, já vazado em vídeos, Duvivier aprenderia ao menos uma metáfora: "O demônio também ouve nossas orações. Cuidado com elas!"

No dia em que esse rapaz estudar um tantinho mais o pensamento que serve de referência às suas escolhas ideológicas, ainda que não saiba disso, talvez cruze com uma expressão de Karl Marx, a saber: "árvore dos acontecimentos". Não! Marx não acredita em eventos caídos da "árvore dos acontecimentos", mas apenas em ocorrências motivadas.

Não existe, para ele, "alguma coisa".

Não existe "qualquer coisa".

E, vejam vocês, alguma coisa, afinal, aconteceu.

E não foi qualquer coisa.

Uma personalidade que lutava com muita energia contra a intervenção no Rio — que tem atingido os negócios dos traficantes, das milícias e da banda podre da Polícia — foi assassinada.

Coloque, por difícil que seja, leitor, a sua cabeça no "modo traficante, milícia ou polícia bandida": se você pretende que "alguma coisa" aconteça contra a intervenção e se está disposto a matar por isso, vai escolher como alvo alguém a favor da ação federal ou contra ela?

A resposta óbvia é aquela que os criminosos deram na noite desta quarta.

Alguém concluiu, com aquele senso prático cru, sanguinolento, impiedoso, desconhecido dos humoristas da Zona Sul, dos artistas do Projaquistão e dos socialistas e socialites com cobertura de frente para o mar: "Alguma coisa, de fato, precisa acontecer".

É claro que não estou responsabilizando aquela gente tonta, Gregório e seus pares, pelo assassinato de Marielle. Os culpados são os que a mataram.

O que estou dizendo é que também eu vejo com suspeição a mera "árvore dos acontecimentos". áHá Há uma cultura e um conjunto de valores com os quais os eventos se relacionam ao menos. Entendê-los é fundamental.

Quem sabe Caetano Veloso e seus bobocas amestrados percebam que o que se passa no Rio não é coisa para ligeirezas, não é só "um jeito de corpo", não é mera questão de adesão a um estilo de vida.

Os bandidos contrários à intervenção no Rio, pertençam eles a esse ou àquele grupo, matam.

E, contra eles, até agora, o Coletivo 342 não disse uma única palavra.

Seus inimigos são aqueles que os assassinos de Marielle também querem ver longe do Rio.

Afinal, "the business must go on". Além do show dos idiotas e irresponsáveis.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.