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Reinaldo Azevedo

Moro elogia em entrevista 2 ministros que votaram contra pena depois da 2ª instância e faz indiscreta pressão sobre Rosa Weber

Reinaldo Azevedo

27/03/2018 08h58

Rosa e Celso: para Moro, duas referências de bons juízes. Ambos votaram contra aquilo que o juiz defende

Nesse clima de provisoriedade institucional e constitucional que alguns acreditam estar em curso no Brasil — ou para o qual eles próprios contribuem, assiste-se até a lobby de juiz em cena aberta.

No dia em que o TRF-4 rejeitou os embargos de declaração interpostos pela defesa de Lula, o juiz Sérgio Moro concedeu uma entrevista ao programa "Roda Viva". Uma coincidência, é claro…

Ele aproveitou a oportunidade para, vamos dizer, mandar um recado à ministra Rosa Weber, integrante da Primeira Turma do Supremo e que teve seu voto escandalosamente patrulhado por Roberto Barroso e Luiz Fux na sessão de quinta-feira passada. Moro atuou no gabinete de Rosa como auxiliar no processo do mensalão. O doutor também dirigiu elogios a Celso de Mello. Sobre Weber, afirmou:
"Tenho apreço especial pela ministra Rosa Weber, com quem trabalhei. Pude observar a seriedade da ministra, a qualidade técnica da ministra".

E considerou o seguinte sobre a execução da pena depois da segunda instância: "Tenho expectativa de que esse precedente não vai ser alterado". Para ele, "passaria uma mensagem errada de que não cabe mais avançar". E acrescentou: "Vamos dar um passo atrás. Seria uma pena."

Ocorre que faltou dizer uma coisa, e boa parte da imprensa está se esquecendo de lembrar…: os dois ministros que Moro cita como exemplos de qualidade no Supremo votaram em 2016 contra a execução provisória da pena, num Recurso Especial com Agravo, que tinha repercussão geral, mas não efeito vinculante.

Lembro. Votaram em favor da execução provisória os ministros Teori Zavascki, Joaquim Barbosa, Roberto Barroso, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia. Opuseram: Celso de Mello, Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski, Dias Toffoli e Rosa Weber.

Vejam que coisa: os dois ministros que Moro cita como referências de qualidade opuseram-se a antecipação da pena. Weber, para quem rasga elogios, teria de mudar de opinião, não é mesmo?

Pressão
Isso faz parte da pressão. Quando Cármen Lúcia pautou o habeas corpus, porque Edson Fachin, o relator, já não poderia mais adiar, mas não as ADCs (Ações Direitas de Constitucionalidade), estava — e está contando — que Rosa dê um voto alinhado com a maioria da Primeira Turma, que negaria habeas corpus a Jesus Cristo, a Mahatma Gandhi e a Sidarta Gautama, o tal Buda. Por ali, há quem já tenha se oferecido para defender terrorista de graça, há quem retire de pauta temas que custam R$ 1,6 bilhão aos cofres públicos e aos desdentados. Habeas corpus? Nem pensar.

Bem, se Rosa não fizer as vontades de Moro, como Celso não deve fazer, há pelo menos uma avaliação do juiz que deveria instruir seus fanáticos: ele acha que pode haver decência e qualidade mesmo em ministros que votam de acordo com o que está na Constituição.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.