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Reinaldo Azevedo

Mantenho a convicção e o lado abraçados nos impeachments de Collor e Dilma. Ou: “liberais” exibem o que as aspas escondem

Reinaldo Azevedo

02/04/2018 06h07

Na terça-feira, amanhã, grupos antipetistas estarão nas ruas. Em defesa da execução da pena depois da condenação em segunda instância? Não! Eles nem sequer haviam pensado nisso e não teriam tocado no assunto se Lula não estivesse vivo eleitoralmente — embora não vá concorrer, e ele sabe disso. As esquerdas também estão mobilizadas desde já. Seria em defesa do Inciso LVII do Artigo 5º da Constituição, segundo o qual "ninguém é culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória"? Uma ova! Elas nem sequer haviam pensado nisso e não teriam tocado no assunto se seu líder maior não estivesse prestes a ir para a cadeia. "E você, Reinaldo Azevedo?" Eu continuo a pensar o que sempre pensei: sim, o desejável é que a condenação pelo colegiado baste para a execução penal, mas isso agride a Constituição. E, se agride, não pode ser. À diferença de Cármen Lúcia, eu não olho quem está na fila da guilhotina para fazer uma escolha. Como, aliás, fazem esquerda e direita. Do ponto de vista moral, não se distinguem. Não sou partidário do direito penal "do" ou "para o" inimigo.

Lula não definia as minhas escolhas nem quando ele era tratado como imperador por alguns que se converteram agora em radicais do antilulismo. Imaginem se iria fazê-lo quando luta para não ir para a cadeia. Nem os poderosos de plantão nem os que caíram em desgraça ditam o rumo do meu pensamento. Liberal que ataca o estatuto do habeas corpus liberal, que fique claro!, não é. Liberal que defende que se dê um "by pass" na Constituição por razões de guerrilha política, que fique claro!, liberal não é. Liberal que endossa ou reprova os meios a depender do dono da cabeça a ser cortada ou preservada, que fique claro!, liberal não é. Liberal que se junta a extrema-esquerda na depredação da ordem democrática, que fique claro!, liberal não é. Estamos falando de oportunistas, isto sim, que se situam nos extremos do espectro ideológico e que apostam na desordem na certeza de que o pêndulo da história lhes conferirá não razão, mas os meios com que calar o inimigo.

Na minha coluna na Folha, na sexta-feira passada, apontei que há forças políticas às pencas, hoje em dia, que apostam no rompimento do diálogo com o que chamo de "elementos de coesão" da sociedade. Se triunfarem, vêm o quê? A resposta é óbvia: a desordem. O diabo sopra aos ouvidos dos dois lados: "Sigam adiante, apostem no confronto, vocês vão ganhar…"

Meu blog fará 12 anos no dia 24 de junho. Não mudei de lado nem de convicção: saí em defesa da lei e da Constituição quando ficou claro que o PT pretendia dar um passa-moleque na ordem instituída. Fiz o mesmo no caso do impeachment de Dilma. E já fizera antes, quando esta página nem existia, no impedimento de Collor. Quem ignora os princípios é capaz de qualquer coisa. É gente que chama a sua própria amoralidade de realismo. No poder, seguiriam a cartilha deixada pelo pior canalha e ainda diriam que o fazem para combater a canalhice adversária. Fiquem atentos.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.