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Reinaldo Azevedo

Forma escolhida por Moro para efetivar a prisão de Lula foi destrambelhada; só a explicam estrelismo e certa ingenuidade

Reinaldo Azevedo

07/04/2018 08h05

Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cercado de militantes petistas: vai se entregar neste sábado

A sede de estrelato de Sérgio Moro tem seus momentos de pura imprudência e irresponsabilidade, digamos, fáticas. Notem que nem vou tratar aqui do ato destrambelhado, em concerto com o TRF-4, que consistiu em mandar prender Lula quando havia ainda a possibilidade de recurso. Afinal, o juiz deixou claro em seu despacho que ele tem ideias próprias sobre leis… Quero aqui me referir à maneira que ele escolheu para efetivar a prisão de Lula.

Tribunal e juiz não deram tempo nem mesmo de o sistema prisional e de a Polícia Federal se preparar para um evento dessa importância. Comecemos pelo óbvio: desde quando um juiz precisa tornar pública com 24 horas de antecedência que se vai efetivar a prisão? Independentemente do autoritarismo da decisão, esta deveria ter sido uma ação executada com o máximo de sigilo. E não teria havido tempo para Lula voltar ao lugar onde fora preso 38 anos, durante a ditadura militar.

Sob o pretexto de dar a Lula a chance de se apresentar voluntariamente — em deferência à sua condição de ex-presidente —, o juiz acabou expondo todos à insegurança, a começar do próprio Lula. Afinal, a seara política está hoje empestada de malucos de toda sorte. Nesta sexta, um repórter da BandNews FM flagrou "seguranças" do MST no encalço de um homem que circulava armado nas imediações do sindicato. Tiros foram disparados há dias contra um ônibus do PT.

"Ah, foi Lula quem armou o circo!" Se é assim, foi com a óbvia ajuda do juiz. Não custa notar que temos, mais uma vez, o Dragão da Maldade se protegendo contra a ação do Santo Guerreiro. As manifestações de truculência dos petistas contra a imprensa ajudam a compor esse quadro da luta do Bem contra o Mal.

O que poderia ter sido um ato discreto, efetivo — e aí o PT veria o que fazer —, ensejou a oportunidade do espetáculo e da mímica da resistência.

Não é a primeira vez que o juiz age com imprudência e açodamento. Isso deriva da quase unanimidade de que goza na imprensa — falta pouco para que, em certos setores, se declare a sua santidade.

Que tenha buscando, mais uma vez, os holofotes, não se duvide. É o mesmo juiz que concedeu uma entrevista na antevéspera de o Supremo começar a decidir o destino do habeas corpus que havia sido impetrado pela defesa de Lula. E não se fez de rogado: mandou ver na pressão aberta sobre Rosa Weber, na forma de um elogio.

E acho que pesou também um tanto de ingenuidade. É possível que Moro tenha achado que o petista iria mesmo se apresentar espontaneamente em Curitiba.

Lula tem amargado sucessivas derrotas na Justiça, é verdade. No embate com Moto, até agora, perdeu todas porque o outro lhe roubou a condição de mito. De política, no entanto, ele entende um pouco mais do que o juiz.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.