87 anos, câncer, metástase óssea, confusão mental, osteoporose, hemorragia digestiva. Que honesto pervertido grita: “Cadeia!!!”?
Meus caros, fiquem atentos para os momentos — e talvez seja preciso evocar um tanto da psicologia — em que desejo de justiça se transforma em perversão. Nesta quarta, podem ser votados os habeas corpus de Antonio Palocci e Paulo Maluf. A minha simpatia por ambos fica muitos pontos abaixo de zero. Maluf já me processou. O mestre Manuel Alceu Affonso Ferreira ganhou a causa. O primeiro está em prisão preventiva há um ano e oito meses. Na prática, sua sentença está sendo executada depois de condenação em primeira instância. O expediente é próprio de ditaduras.
Maluf, segundo relatório médico do Hospital Sírio-Libanês tem recidiva de câncer de próstata com metástase óssea, incontinência urinária, encefalopatia tóxico-metabólica, broncopneumonia aspirativa, osteoporose, hemorragia digestiva, confusão mental, depressão e depende de cadeira de rodas para necessidades fisiológicas…
E isso reproduz apenas parte dos seus males.
E, sei, alguém ouvirá isso tudo e dirá, em tom de interrogação, mas de afirmação também de uma moralidade e de uma ética: "Quem mandou roubar?"
Serei muito franco também numa interrogação e numa afirmação: que tipo de pervertido defende que alguém assim, aos 87 anos, permaneça num presídio, chame-se Maluf ou José da Silva, quando pode ficar em prisão domiciliar?
Sei o que me custa fazer essas interrogações-afirmações, mas eu só tenho um caminho: apostar na civilidade. E combater a barbárie. Sempre foi assim. Sempre será assim. Ainda que o tal sentimento da nação, de que falam alguns militares, vá em sentido contrário.
É o que me diz a minha consciência. À diferença dos ministros Edson Fachin, Luiz Fux e Roberto Barroso, o meu "voto" não interfere no destino das pessoas. Só tenho mesmo a consciência.