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Reinaldo Azevedo

Um delegado da PF, oriundo do petismo, quer prender geral no Facebook; já outro servidor queria jogar Lula fora do avião

Reinaldo Azevedo

10/04/2018 08h10

A tensão política é grande. A Lava Jato criou a impressão de que não existe moralidade, verdade ou decência sem que se grite por aí: "cadeia!". Querem ver? O delegado da PF Milton Fornazari Júnior escreveu em sua página no Facebook, logo depois da prisão de Lula, o seguinte: "Agora é hora de serem investigados, processados e presos os outros líderes de viés ideológico diverso, que se beneficiaram dos mesmos esquemas ilícitos que sempre existiram no Brasil (Temer, Alckmin, Aécio etc)".

Sim, ele foi repreendido pela direção da Polícia Federal. E só! Sabem o mais engraçado? Grupos organizados de direita e extrema-direita aplaudiram o delegado. Bem, eis aí confirmada a minha teoria sobre o chamado "Partido da Polícia". É só ele? Não! Deltan Dallagnol e Carlos Fernando fazem a mesma coisa. Quando nos lembramos que é Fonazari, qual a sua origem, abre-se uma luz trevosa nas trevas.

Ex-advogado do Sindicato dos Bancários, sempre foi próximo do PT. Presidiu, em São Paulo, inquéritos que investigaram o envolvimento de tucanos com a Alston e com a Siemens e sempre caprichou na retórica política. Notem que, em sua mensagem no Facebook, ele trata da necessidade de fazer, vamos dizer, uma compensação de caráter ideológico.

Ora, é claro que se aproveita do que é matéria de bom senso e do senso comum — todos os criminosos têm de ser punidos, não importa o partido —, mas o faz, vamos dizer, de forma abstrata. Que as pessoas nas ruas se manifestem nesses termos, vá lá. Mas ele é um delegado da Polícia Federal. Tem em mãos instrumentos do aparelho repressivo do Estado.

Durante o voo que transportou Lula de São Paulo para Curitiba, no gerenciamento da aeronave — não se sabe ainda em que lugar — alguém afirmou o seguinte: "Manda esse lixo janela abaixo". Na sequência, uma voz feminina alerta que a frequência é gravada. Vale dizer: trata-se de um servidor público, sim. E ele tem de ser identificado. Nada disso colabora para o combate à corrupção. Nada disso faz um país melhor. Isso, se querem saber, longe de combater o PT ou as esquerdas ou tirá-los do jogo pela via eleitoral, só reforça a convicção de certos setores de que se trata de uma espécie de conspiração.

A fala do delegado Fornazari é emblemática porque ela coincide com a pregação de muitos petistas: não se questionam métodos ilegais que estão em curso — que nada têm a ver com o combate à corrupção: o que se quer é que eles sejam generalizados. Ou não foi também o sentido das palavras dos pré-presidenciáveis Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) em suas respectivas pregações no Fórum da Liberdade?

Fiquem certos: nessa trilha, o país se torna ingovernável.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.