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Reinaldo Azevedo

Discurso de Álvaro Dias é pura conversa mole; político resolve ser a Voz de Curitiba em 2018; sua trajetória política a tanto não o autoriza

Reinaldo Azevedo

07/05/2018 17h13

Álvaro Dias: papo-furado em sabatina na Folha e juízos temerários (foto: divulgação)

O senador Álvaro Dias (PR), que pleiteia a Presidência pelo Podemos, é outro que decidiu competir na conversa mole com Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB). Em sabatina promovida pela Folha, diz, entre outras pérolas, que não aceitaria uma composição com o PSDB porque o partido faria parte do esquema que ele está combatendo. Ah, bom"! Então o mesmo deve se dar com o PMDB, com o DEM, com o PP, com o PSD, com o PT… Os partidos, em suma, que participaram ou participam do poder nos últimos 30 anos.

Opa! Álvaro Dias era tucano. Mas não só. Ele já foi do PV, MDB, PDT e PP. E como explica esse tico-tico no fubá? Segundo diz, mudou todas as vezes de partido para "não mudar de lado". A frase é um clichê para justificar o comportamento de políticos que trocam de legenda com mais facilidade do que eu troco de camiseta… Quer dizer o quê? Nada! De que "lado" ele está falando? Se ele afirmar que "é o do povo", correrei para pegar um Engov. Afinal, que político diz disputar o poder para defender o interesse dos ricos?

Dias deveria, em nome da transparência, confessar que migrou de legenda a cada vez que não teve atendido um pleito pessoal e que buscou alternativas em busca de vantagens políticas. Derrotado no front interno, caiu fora em defesa do próprio interesse. No movimento da hora, viu a oportunidade de transformar Curitiba em categoria de pensamento.

Se essa gente toda está moralmente descartada para compor com ele uma frente, entendo que está moralmente descartada também para ajudá-lo a governar. Quando Dias, se presidente, quiser ver aprovada uma emenda constitucional, fará o quê? Botará a Lava-Jato na rua? Deveria haver um limite para o ridículo em política. Não há.

Também é detestável a fala do pré-candidato sobre o tiros havidos contra o acampamento em defesa de Lula, em Curitiba. Ele condena, claro!, mas, de olho no bolsonarismo em voga, o doutor afirma sobre a manifestação: "Não concordo com o tiro, mas não concordo com a provocação; é um acinte, um escárnio, uma afronta à legalidade democrática".

Opa! Calma lá!

Manifestação, ainda que estúpida, não afronta a lei, não é crime. Se o acampamento está descumprindo a lei, que os entes do Estado tomem as devidas providências para que a Justiça possa atuar. Já os tiros pertencem a uma outra categoria de ação e não podem ser vistos como uma reação proporcional ao que se considera um agravo. Acho que Álvaro Dias, no afã de se mostrar diferenciado e de navegar no antipetismo, andou esquecendo pressupostos básicos da democracia.  Protestos não afrontam "a legalidade democrática"; tratá-los a tiros, sim.

Dias diz que jamais seria vice de Alckmin porque, afirma, combate o "sistema" ao qual pertence o PSDB — sistema no qual fez a sua carreira política. Entendo. Pergunta: nessa sua adesão ao "antissistema", aceitaria ser vice de Bolsonaro?  Poderia receber do titular da chapa umas aulas de tiro ao alvo, a ser verdade que o candidato do PSL era mesmo um exímio atirador quando no Exército.

Não tenho paciência para isso tipo de papo-furado.  Álvaro Dias como nome contra o establishment político é uma piada. Digamos que ele descobriu tarde essa vereda, não é? Foi eleito deputado estadual aos 25 anos. Vai fazer 74 em dezembro. Foi muito bem-sucedido na chamada "política tradicional". E agora resolveu estrear na antipolítica cuspindo no prato em que comeu e tratando tiros como a reação compreensível a um acampamento de protesto?

Que parte do regime democrático ele não entendeu?

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.