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Reinaldo Azevedo

Temer lança Meirelles como pré-candidato do MDB à Presidência; a racionalidade tem outra chance em meio ao irracionalismo militante

Reinaldo Azevedo

22/05/2018 16h15

Meirelles e Michel Temer: o MDB define a primeira etapa de sua estratégia eleitoral

As pedras ainda estão rolando. O presidente Michel Temer anunciou nesta terça, na sede do MDB em Brasília, o nome do, atenção para a expressão, "pré-candidato oficial do partido" à Presidência: Henrique Meirelles. Foi o ministro da Fazenda que conduziu, sob a orientação de Temer, o processo de saída do país do caos petista para o caminho da ordem. Uma nota à margem: Temer fez o que Lula gostaria que Dilma tivesse feito tão logo se reelegeu em 2014. Mas ela, como se sabe, não aceitou a sugestão. Tivesse ouvido o antecessor, é bem possível que Meirelles tivesse sugerido que o próprio PT adotasse o teto de gastos — medida que o partido, o PDT e as esquerdas vão demonizar na campanha eleitoral.

"Nós chamamos você para ser presidente do Brasil", afirmou Temer a seu ex-ministro. E emendou para a plateia, num discurso de 15 minutos: "Digo sem errar que o Meirelles é o melhor entre os melhores."

Com efeito, de Meirelles, caso consiga chegar à Presidência, não se devem esperar estripulias heterodoxas nem saltos no escuro. A equação de retirada da economia do abismo dos 3,6% de recessão foi complexa e bem-sucedida. A recuperação que se esperava não está aí, mas desafio um só crítico — não valem os de esquerda porque seu entendimento do mundo é outro — a demonstrar que a economia emperrou em razão de erros técnicos cometidos no percurso. Não houve nada de relevante! Foi a política que travou a economia.

Não fossem as tentativas de deposição de Temer e o processo de contínua destruição da classe política, o país já teria aprovado também a reforma da Previdência, e outro seria o jogo. Mas o aparelho policial-burocrático reagiu. E chegamos ao ponto em que estamos. E que se note: se o presidente tivesse caído, por óbvio, estaríamos em situação muito pior. Não fosse o espírito de porco que tomou conta da própria análise política, em que o articulista acha que é preciso necessariamente falar mal e se comportar como enfezado para evidenciar que é isento, e Temer, com Meirelles ao lado, já teria, desde já, reconhecido seu lugar na história.

Mas Meirelles será mesmo o nome que vai disputar pelo MDB? Coloquemos assim: é, agora, o nome que será trabalhado pelo partido, que será posto no mercado das ideias; que falará abertamente como candidato; que vai disputar as preferências, as adesões e as prefigurações dos grupos organizados; que vai tentar uma cunha de racionalidade na metafísica influente em que imperam os extremistas do nada.

Nas pesquisas de intenção de votos, aparece com 1%. Há, calculo eu, uns dois meses pela frente para saber até onde pode ir. Mas mesmo essa consideração depende de circunstâncias que não são da vontade do MDB. Meirelles é um dos nomes do chamado "centro político", no qual se destaca, mas de modo muito modesto, o  tucano Geraldo Alckmin.

Não se descarta, por óbvio, uma composição entre os dois. Considerada a hipótese hoje, o ex-presidente do Banco Central de Lula e ex-ministro da Fazenda de Temer entraria como vice. Mas isso também vai depender de uma avaliação objetiva das possibilidades do tucano. Mais ainda: o jogo se define, por ora, no MDB e vai depender da capacidade de Alckmin de costurar alianças e consensos.

O presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), um dos melhores leitores do cenário político que há no Congresso Nacional, foi bastante eloquente e sintético a respeito: "Abrimos espaço para avançar. Meirelles tem a condição de buscar a convergência e de fazer crescer no bloco de centro". E o agora pré-candidato sintetizou: "A união com os demais partidos começa agora a ser conversada. Vamos começar a conversar com todos os partidos para ver os tipos de união. […] Se for possível no primeiro turno, excelente. Se não, tenho segurança de que serei o candidato no segundo turno."

A sorte está lançada.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.