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Reinaldo Azevedo

O monopólio de refino da Petrobras é, sim, uma disfunção. Logo, a boa resposta seria de cunho liberal. Mas se dará o contrário. Sem surpresa!

Reinaldo Azevedo

04/06/2018 06h37

Qual deve ser a consequência da greve dos caminhoneiros? Bem, deveria ser a privatização da Petrobras ou, quando menos, a quebra do monopólio do refino. Não acontecerão nem uma coisa nem outra. Qualquer que seja o governo, a empresa será submetida a métodos de gestão menos transparentes do que os atuais. A empresa voltará a ser usada como instrumento de política econômica.

E por que é assim? Ora, porque e muito fácil dizer aos brasileiros: "Nós, o povo, somos ou não somos os principais acionistas da Petrobras?" Ao que se responderá, por óbvio: "Sim!" Ora, então esse "nós", o verdadeiro dono, escolhe ter um combustível mais barato. Como a Petrobras não concorre com ninguém, o que o comando decidir será lei. Pode fazer como vinha fazendo, de olho no caixa da empresa, na rentabilidade, na melhoria dos indicadores, na atração de investimentos, na valorização de mercado na Bolsa. E, de outro modo, pode decidir usar os combustíveis como uma espécie de acolchoado para diminuir tensões sociais.

Combustível barato e abundante será, aliás, podem escrever aí, mais um dos milagres que se vão cobrar do sucessor de Michel Temer. Reparem que seus notáveis prodígios para meros dois anos de governo desapareceram na "tabula rasa" da gritaria política, das aventuras golpistas de Rodrigo Janot e de parte considerável da imprensa, no lava-jatismo doidivanas, transformado no único redutor da vida pública. O Congresso que vem por aí tende a ser mais complicado do que este que temos, com ainda mais "senhores da guerra" liderando grupos influentes, mas capengas, todos eles, para formar o núcleo duro da maioria necessária para governar. Por isso tenho afirmado em toda parte que estamos num ciclo de instabilidade que vai ter longa duração.

No que diz respeito à Petrobras, podem esperar uma política mais atrasada do que a que se tem hoje. Até porque, convenham, há mesmo uma disfunção em curso, mas que pediria uma resposta de cunho liberal, não uma intervenção esquerdista: não faz sentido uma monopolista definir um preço que tem potencial até para derrubar presidentes. A resposta correta, a liberal, seria esta: quando menos, vamos pôr fim ao monopólio. A solução plena viria junto com a privatização.

Mas a esquerda já faturou o resultado: monopólio e estatismo seguem intocados, e métodos de gestão que lustram o atraso voltarão a ser empregados em suposto benefício do povo brasileiro.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.