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Reinaldo Azevedo

É tão difícil obter informações sobre táticas e estratégias tucanas na eleição que a gente se pergunta se está perdendo algo. Mas não está!

Reinaldo Azevedo

12/06/2018 07h53

Alckmin: o que se aposta é que o enigma tem algum segredo. (Foto: Aloisio Maurício)

É tão difícil obter uma informação sobre táticas ou estratégias do PSDB, bastidores sobre conversas, entendimentos feitos na surdina virtuosa — falo sobre bastidores, negociações legítimas, corriqueiras em política — que os analistas se perguntam, às vezes, se não estamos diante de um novo modo de exercitar essa arte que começou faz um tempinho na Grécia Antiga. Sim, eu me preocupo: vai que seja incompetência nossa, que as coisas estejam acontecendo de forma vertiginosa, por baixo dos panos, e que não estejamos percebendo.

Mas penso, por outro lado, que, fosse assim, os tucanos de alta plumagem não estariam igualmente na seca, não é? Por enquanto, Geraldo Alckmin, pré-candidato do partido à Presidência, fala muito pouco com jornalistas e, tudo indica, menos ainda com seus pares de partido. Uma quase-reclamação de FHC, registrada em reportagem da Folha nesta terça, é bastante eloquente: "Não falei recentemente com ele (Alckmin), nem seria o caso, mas não é certo que, quando necessário, ele não fale comigo, pronta e civilizadamente". Pois é.

Sim, Alckmin vive um momento delicado. O PSDB, já escrevi aqui tantas vezes, acabou sendo a legenda que mais sofreu desgastes com o razia provocada pela Lava Jato na classe política. Há um repúdio injustificado ao partido, que, por óbvio, afeta o pré-candidato. Digo ser injustificado porque ainda que se queira citar o flagrante armado contra Aécio Neves como um emblema do desastre que colheu a legenda, cumpriria lembrar aqui que a principal liderança do PT está na cadeia. E, como sabemos, não obstante, Lula tem 30% das intenções de voto no primeiro turno e venceria qualquer adversário no segundo. Ainda que fosse verdade tudo o que se diz sobre todos os partidos e políticos acusados, o estoque de pecados do PT seria infinitamente maior.

Os petistas gostam de se divertir com a ideia de que os tucanos enfrentam tais dificuldades em razão da maldição do "golpe", como eles chamam, fantasiando, a destituição de Dilma Rousseff. É uma bobagem sem sentido. O lava-jatismo doidivanas marcou a testa de praticamente todos os partidos e líderes. Se o PT conseguiu se sair melhor, isso se deve a dois fatores:
a: o partido resolveu enfrentar a Lava-Jato, tendo a figura de Lula como símbolo da resistência; em contraste, o PSDB procurou cortar a cabeça de Aécio na esperança de que o eleitorado reconhecesse a diferença de tratamento como coisa virtuosa. Não aconteceu.

b: ao sustentar a tese de que todos os partidos são igualmente corruptos, a Lava Jato abriu caminho para a ressuscitação do PT. Afinal, dizem os companheiros, o partido fez o que todos faziam, mas Lula é o único grande líder preso, o que seria sinal de perseguição.

Desde o começo da saga lava-jatista, os tucanos foram reverentes a seu espírito. Um espírito que, no entanto, destrói a própria noção de política. O PSDB não conseguiu se livrar, até agora, desse fardo.

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Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.