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Reinaldo Azevedo

Tucano chegou a ter um primeiro movimento do que parecia ciclo de boas notícias, com Arida e Bacha. Mas parece que a coisa parou por aí

Reinaldo Azevedo

12/06/2018 07h46

Pérsio Arida e Edmar Bacha: equipe de Alckmin tem os melhores da economia

O tucano Geraldo Alckmin chegou a ter, vamos dizer, um primeiro movimento de notícias virtuosas com a escolha de especialistas na área econômica que vão construir o eixo de seu programa de governo. Lá estão duas pessoas de altíssima competência: Pérsio Arida e Edmar Bacha, homens que ajudaram a trazer à luz o literalmente salvador Plano Real. Como isso significa um compromisso com a racionalidade, com a matemática e com a modernização da economia, imaginou-se que ali estava o início de um ciclo de notícias virtuosas. Mas nada mais aconteceu depois.

O problema é que o desaire que toma conta da vida pública é principalmente político. Quando a economia passa a ter uma tradução eleitoral, é a conversa mole populista de extrema-direita ou de esquerda que está seduzindo parcelas da multidão. Com uma pré-campanha mais estruturada, acho eu, Arida e Bacha poderiam e podem render muito mais. Há ainda um tempo para o didatismo necessário: é preciso que se comece a advertir para os riscos efetivos que corremos. E preciso entrar na rinha política, sim!

O diabo é que as pesquisas continuam muito ruins para Alckmin, como revelaram os números do Datafolha, publicados pela Folha no domingo. Quando Lula, do PT, aparece entre os pré-candidatos, o tucano marca 6%, em empate com Ciro Gomes (PDT). Sem o chefão petista, Marina Silva (Rede) salta de 10% para até 15%, e Ciro pode chegar a 11%.

Nas melhores simulações (para ele) de segundo turno, Alckmin empata com Ciro (31% a 32%) e com Jair Bolsonaro, em 33%. Nas duas hipóteses, os eleitores sem candidato são em percentual maior: 37% e 35%, respectivamente. No confronto com o ex-presidente, a derrota seria certa: 49% a 27%. Não existirá esse cenário, ainda que o tucano chegue à etapa final, porque Lula não será candidato. Mas uma disputa com Marina Silva, da Rede, ainda que difícil, não é impossível.  A candidata da Rede venceria qualquer dos adversários, exceto Lula, mas sua vantagem sobre Alckmin é bem maior: 42% a 27%. Para lembrar: é de 42% a 32% contra Jair Bolsonaro (PSL) e de 41% a 29% contra Ciro.

O raciocínio que suponho existir a explicar essa retração de Alckmin é não expô-lo a isso que seria um ciclo de más notícias. Parece-me uma escolha errada porque, no silêncio, não se faz debate político afirmativo nenhum. Os jornalistas se limitam a colher informações de tucanos, em on e em off, tentando entender o que está em curso. E se acaba tendo aquilo que se procurou evitar: o ciclo de más notícias.

Alckmin é uma figura respeitável, responsável, impermeável a rasgos populistas. Deve ter um bom tempo no horário eleitoral. O eleitorado que se identifica com o centro se angustia e, ao mesmo tempo, acaba apostando na existência de cartas na manga, que serão apresentadas na hora certa. Não integro esse grupo. Se houvesse, acreditem, a gente saberia.

E arremato observando que considero um erro essa conversa de que os brasileiros ainda não estão interessados em eleição. Estão, sim! Pela via do desalento, que é sempre um péssimo conselheiro. Se é que essa estratégia de ficar na moita chegou a ser virtuosa, tem de chegar ao fim se o PSDB pretende mesmo estar no segundo turno.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.