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Reinaldo Azevedo

Marina se aproxima de “Polo Democrático”, que quer aglutinar o centro; Ciro tenta vizinhança, e Bolsonaro contra maconheiros e cachaceiros

Reinaldo Azevedo

29/06/2018 06h44

Marina Silva: isolada na política de alianças, mas com densidade eleitoral, ela se aproxima do tal "polo"

O tal "centro" acaba de ganhar uma adesão com densidade eleitoral, segundo as pesquisas, embora seu partido mereça, sob qualquer critério que se queira, a alcunha de "nanico": refiro-me a Marina Silva, da Rede. Ele mandou um representante seu, João Paulo Capobianco, ao relançamento, na noite desta quinta, do manifesto do autodenominado "polo democrático e reformista". Segundo pesquisa divulgada pelo Ibope nesta quinta, no cenário eleitoral em que Lula não disputa, Marina empata tecnicamente com Jair Bolsonaro: ela com 13%; ele com 17%. O tal polo conversa, também, com Álvaro dias, do "Podemos", que aparece com 2% ou 3% das intenções de voto. O inspirador do movimento é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB, cujo candidato, Geraldo Alckmin, marca 4% ou 6%, a depender do cenário.

O que o tal polo pretende evitar é o que considera um confronto final entre o que chama de "esquerda atrasada", que seria simbolizada pelas pré-candidaturas de Ciro Gomes (PDT) e de Lula (PT), e a direita reacionária, encarnada, obviamente, por Jair Bolsonaro, do PSL.

Mas, afinal, o que quer o tal polo? Bem, de saída, a coisa toda só faz sentido se a luta contra o que se considera a polarização ruinosa para o país convergisse para um nome, que então aglutinasse esse tal centro. Além de Alckmin, dizem-se candidatos Henrique Meirelles (PMDB), Rodrigo Maia (DEM), Flávio Rocha (PRB)… Até agora, nenhum deles demonstrou interesse em compor essa, sei lá como chamar, "frente".  Sem essa união, o que se tem é, sim, um bom documento, que diz coisas sensatas, mas sem efeito prático.

O dado novo, assim, é mesmo a aproximação de Marina. Neste momento, ela agrega ao grupo o que este não tem: uma massa considerável de votos, e este dá à candidata alguma interlocução política, já que a líder da Rede parece especialmente isolada nesta disputa. Não há notícias de que o partido queira compor com alguém ou de que alguém queira compor com ele. Mas o nome de Marina, é inequívoco, resiste na memória do eleitor. Em simulações feitas pelo Datafolha, ela venceria todos os oponentes possíveis no segundo turno, com exceção de Lula, que não será candidato.

Embora o "centro", como se nota, seja um lugar difícil, contata-se ser, no entanto, um local necessário. Um tanto desiludido das conversas com o PT, que se tornou vítima de sua própria obsessão — a impossível candidatura de Lula —, Ciro também tenta transitar nas vizinhanças dessa praia, embora seu entendimento com os possíveis membros do tal polo seja impossível. FHC costuma ser um dos alvos do pré-candidato do PDT.

Ciro, nota-se, tenta se desfazer da imagem de bicho-papão. Busca uma óbvia aproximação com o DEM, afirmando estar disposto até a se desculpar por eventuais caneladas no passado. Também quer desfazer a imagem de inimigo do mercado financeiro. Quer, em suma, se constituir como uma alternativa mais próxima do centro do que da esquerda.

E, certo de que o absurdo do dia deve ser sempre superior ao do dia anterior e inferior ao do seguinte, segue Jair Bolsonaro, o sonho de consumo de qualquer um que vá disputar o segundo turno. Ele foi à Fortaleza de Ciro e esboçou um programa de governo. Está na hora, disse, "do direito, daquele que pensa no Brasil, pensa na família e pensa em botar um fim na questão ideológica, de quem quer sepultar o comunismo". Afirmou ainda não haver lugar no Planalto "nem para maconheiro nem para cachaceiro".

Devemos todos nos perguntar quais forças concorrem para que, no Brasil de hoje, um presidiário lidere as pesquisas de intenção de voto, seguido, ainda que de longe, por alguém cujas credenciais maiores para nos governar são não beber cachaça nem fumar maconha.

Convenham: este país perdeu, de fato, o… centro.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.