O combate à corrupção é apenas uma dimensão do poder e constitui obrigação. Não pode ser o ponto de chegada ou o horizonte do governante

Michel Temer : sem o apoio do Congresso, país teria mergulhado no caos

A importância do apoio do Congresso ao governo se mostra de maneira, diria eu, até dramática na gestão de Michel Temer. Não fosse a habilidade do presidente em manter coesa a base de apoio, apesar de todos os desaires, a institucionalidade política poderia ter se esgarçado. "Ah, mas Temer cedeu ao fisiologismo; distribuiu cargos…" A minha leitura não tem essa ferocidade, mas dou de barato que tenha acontecido para chamar a atenção para o que interessa. O fato é que esse governo enfrentou duas tentativas de deposição, chegará às urnas com o país relativamente em paz e conseguiu aprovar no Congresso medidas que tiveram um peso fundamental na estabilização da economia. E mais não fez justamente porque sujeito a um processo permanente de desestabilização. É quase um milagre que tenha sobrevivido à saraivada de balas.

A tentativa de atingir o presidente assistir a procedimentos inéditos, como a reabertura de investigações já arquivadas pelos Supremo, sem que, para isso, existam elementos novos, mas apenas leituras novas. E isso introduz no debate um outro elemento fundamental para a governabilidade, além do apoio ao Congresso. É preciso que os órgãos de investigação do Estado se atenham às leis para que não cedam à tentação de se comportar como gendarmes da sociedade e do processo político. Assim têm se comportado, infelizmente, setores do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Poder Judiciário.

Ao próximo presidente da República resta, também, a tarefa de liderar a reinstitucionalização do país. E isso só pode ser feito com uma base de apoio ampla no Congresso. É preciso, em suma, lembrar ao país que o combate à corrupção é apenas uma dimensão do poder público e constitui uma obrigação. Não pode ser o ponto chegada de um governo nem o horizonte a ser perseguido pelo governante.