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Reinaldo Azevedo

Indisposição de líderes do Centrão com Josué Gomes recomenda que Alckmin escolha logo alternativa; Maia: “Sem hegemonia do PSDB”

Reinaldo Azevedo

26/07/2018 07h29

Marisa Letícia e Lula visitam José Alencar no hospital, em 2009. Então vice-presidente está ao lado da mulher, Mariza Gomes

O "Centrão" — DEM, PP, PR, PRB e SD — oficializa, por assim dizer, nesta quinta, a adesão a Geraldo Alckmin, candidato tucano à Presidência. E sem vice. Josué Alencar, filiado ao PR, ainda não está inteiramente descartado, mas me parece que, a esta altura do campeonato, o melhor para Alckmin é que que ele se mantenha longe da vaga. O deputado Paulinho da Força, presidente do SD, já o acusa de ter sido "deselegante" e de "não ter sido correto" ao afastar de si o cálice. Marcos Pereira, que preside o PRB, optou pela ironia. Diz que Josué resiste a entrar na disputa porque "não quer desobedecer a mamãe".

De fato, Josué entoou uma Ângela Maria ao explicar as dificuldades de ser vice: "Ela é a dona de tudo/ Ela é a rainha do lar/ Ela vale mais para mim/ que o céu, que a Terra, que o mar…" . Explica-se: consta que Mariza Gomes da Silva, sua mãe, de 83 anos, não o quer metido com a política. Huuummm… Parece que metido com a dita-cuja ele já está. Ela resiste mesmo é à composição com o tucano, que o empresário assegura em artigo publicado pela Folha ser o melhor candidato.

Há um tanto de interiores aí. A viúva de José Alencar, a "Mariza com Z", era amiga pessoal da "Marisa com S", a Letícia, mulher de Lula, que morreu em fevereiro do ano passado. A amizade do ex-presidente com seu vice era verdadeira. Deixou de ser uma conveniência política. Quando Alencar morreu, em 2011, Lula chorou copiosamente. As relações afetivas, nesse meio, são raras, mas existem. E, convenham, não há nada de errado nisso. A falha está na condução da negociação. Resta claro, a esta altura, que Valdemar Costa Neto, presidente do PR, usou um trunfo na sua conversa com seus parceiros que era, na verdade, um blefe. Josué não queria ser vice de Alckmin. Já tinha deixado claro a interlocutores que a composição pessoal com Ciro Gomes (PDT) seria mais fácil.

Não sei se o empresário vai ou não voltar atrás, desobedecendo a mãe. O que me parece é que um recuo agora da disposição de não disputar seria mais problema do que solução. O melhor para Alckmin, entendo, é se dedicar à construção de um novo vice.

Note-se à margem, de qualquer sorte, que o circo político brasileiro está cheio de aberrações. Três dias antes de Valdemar integrar o grupo do Centrão, o PR negociava firmemente com Jair Bolsonaro (PSL). Quando a conversa deu com os burros n'água, o bolsonarista Valdemar ofereceu como vice ao Centrão o nome de um filiado que vem da órbita petista: justamente Josué. Que sentido isso faz? Nenhum!

O presidente do PR tentou arrancar de Bolsonaro, na hipótese de vitória, uma coabitação no poder. Não conseguiu. Então rumou para o "Centrão" e fez o grupo se deslocar para Alckmin, usando Josué como estandarte. E, até agora, não entregou o prometido. E, tudo o mais constante, faz o candidato ouvir um "não" a uma oferta: "Seja meu vice". Não há como a recusa não ser ruim, pouco importa quantos artigos o empresário escreva.

Alckmin sai, sim, com vantagem porque terá 40% do horário eleitoral. Mas aliança tão grande sempre flerta como uma ameaça permanente de crise. Nesta quarta, Rodrigo Maia, presidente da Câmara e um dos caciques do DEM, concede entrevista à Folha que traz um quê de hostilidade a Alckmin e ao PSDB. Maia já está cobrando a fatura e diz que os tucanos não podem se comportar como força hegemônica da frente de partidos que apoia o tucano. O "Centrão" não quer ser o patinho feio da composição, cuja importância estaria apenas no tempo que dispõe no horário eleitoral e nos recursos. Quer mesmo é dividir o poder.

Vamos ver. Alckmin tem uma expressão pública que o associa à calma, à tolerância, ao comedimento. Ainda que seja verdade, está longe de ser toda a verdade. Não é do tipo que goste de compartilhar decisões ou de dividir espaços de poder. A indicação do vice será um primeiro passo para testar a viabilidade da aliança.

 

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.