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Reinaldo Azevedo

Carlos Fernando, Batman de Deltan, o Menino Prodígio, diz besteira sobre STF e investigação, mas tenta posar de moderado e critica Janot

Reinaldo Azevedo

30/07/2018 06h45

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, uma das estrelas da Força Tarefa de Curitiba — uma espécie de Batman de Deltan Dallagnol, o "Menino Prodígio" — concede uma entrevista à Folha desta segunda.  Há três coisas a dizer sobre a intervenção da face mais irascível da Lava Jato:
1: ele continua a dizer coisas assombrosas, mas que parecem muito convincentes a quem não sabe do que ele está falando;
2: o homem resolveu posar de moderado e até admite erros na Lava Jato, mas não em Curitiba, é claro!:
3: a guerra com a Polícia Federal continua.

Vamos ver.

Para Carlos Fernando, o principal empecilho à Lava Jato está mesmo no Supremo. Afirma o bravo:
"Por que a Lava Jato diminuiu o ritmo? Porque a todo momento, estamos sendo brecados ou pelo foro privilegiado ou pela transferência de casos para a Justiça Eleitoral. A Lava Jato no começo era uma Ferrari. Agora, somos um caminhão. (…). Se os ministros do Supremo insistirem em tirar as coisas do Paraná ou mandar para a Eleitoral, vai ficar difícil. A Justiça Eleitoral em segundo grau é muito menos jurídica e muito mais influenciada por fatores políticos. O Supremo hoje diz: esse caso não é seu. Mas, se alguém olhar a Constituição, o Supremo não tem essa competência. Quem decide conflito de competência entre Justiça Federal e Estadual é o STJ."

Trata-se de uma soma deliberada de bobagens. Os casos só saem do Paraná quando não guardam relação com a investigação que lá teve início e que tem a Petrobras como epicentro. Por isso a Lava Jato está na raiz de novas operações. É o caso, por exemplo, de Sérgio Cabral. Quando os ministros do Supremo "tiram as coisas do Paraná" é porque ao Paraná elas não cabem, a menos que se afronte a lei. Da mesma sorte, um caso só vai para a Justiça Eleitoral quando os colegas de Carlos Fernando, os procuradores, não conseguem apontar a evidência de tipos penais. Vale dizer: o trabalho insatisfatório, então, é feito pelo MPF. E, notem, para Carlos Fernando, a Justiça Eleitoral em segundo grau não passa de palco de tramoias políticas.

Noto que Carlos Fernando, mesmo atacando o Judiciário, resolveu assumir um figurino um pouco mais moderado. Admite erros na Lava Jato e cita dois casos que são realmente escandalosos: as delações de Delcídio do Amaral e de Sérgio Machado. Embora Rodrigo Janot lhes tenha concedido benefícios assombrosos, suas respectivas acusações caíram no vazio. Nada do que disseram fez a investigação avançar. Não obstante, até agora ao menos, conservam os benefícios decorrentes das múltiplas acusações que fizeram. Lembrem-se de que, à esteira do acordo de Machado Janot chegou a pedir a prisão do ex-senador José Sarney e dos senadores Renan Calheiros (PMDB-AL) e Romero Jucá (PMDB-RR). Teori Zavascki recusou. Carlos Fernando cutuca Janot também no caso da delação de Joesley Batista, que teria arranhado o instituto da delação premiada: "Nós, em Curitiba, não damos imunidade, por princípio."

E, como era esperado, o procurador critica o fato de a PF poder celebrar acordos de delação premiada. A guerra, pois, entre os dois entes continua. Sem que se conheçam os termos da acusação de Antonio Palocci e as acusações que faz, Carlos Fernando ataca o acordo celebrado pelo ex-ministro com a PF: "Qual era a expectativa? De algo, como diz a mídia, do fim do mundo. Está mais para o acordo do fim da picada." Ou ainda: "A porta da frente dos acordos sempre será o Ministério Público. A porta dos fundos é da PF. As pessoas irão à PF se não tiverem acordo conosco."

Pouco perceberão o que há de assombroso nessa fala. Notem que Carlos Fernando dá a entender que conhece o roteiro de Palocci e que considera a sua delação falaciosa. Não é o que pensa a Polícia Federal. Dois entes do Estado brigam para ver quem fica na vanguarda do denuncismo. E isso é péssimo para o país e, como se vê, para o combate à corrupção.

Sobre o autor

Reinaldo Azevedo, que publicou aqui o primeiro post no dia 24 de junho de 2006, é colunista da Folha e âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM.

Sobre o blog

O "Blog do Reinaldo Azevedo" trata principalmente de política; envereda, quando necessário — e frequentemente é necessário —, pela economia e por temas que dizem respeito à cultura e aos costumes. É uma das páginas pessoais mais longevas do país: vai completar 13 anos no dia 24 de junho.