Marina não consegue aliados porque pretende menos governar o Brasil do que andar sobre as águas. Onde se afeta humildade há arrogância
Por que diabos uma candidata como Marina Silva (Rede), que tem, sim, um sólido "recall"; que tem uma presença na grande imprensa muitas vezes superior à sua capacidade de gerar notícia; que é tratada pelo establishment político com uma certa solenidade que a coloca um tanto acima das miudezas cotidianas… Por que diabos alguém assim não consegue articular uma miserável aliança e, na hora de procurar um vice, vai se escorar num ator cujo pensamento político é ignorado pela esmagadora maioria dos brasileiros?
Sabem o nome disso? Arrogância. Marina quer menos governar o Brasil do que andar sobre as águas.
A única coisa que conhecemos de seus posicionamentos recentes é seu alinhamento automático com a Lava Jato, o que, em muitos aspectos, é mais um problema do que uma solução, uma vez que as violações ao Estado de Direito estão aí, aos olhos de todos.
A recusa do ator Marcos Palmeira, que não quis ser vice em sua chapa, nas condições em que se dá, revela uma coisa: caso venha a ser eleita, Marina tem dois caminhos para governar, já que não tem aliados — e o mesmo vale para Jair Bolsonaro: ou loteia o governo como nunca antes na história deste país ou dá um golpe. Não havendo espaço para a segunda coisa…
"E Ciro e Meirelles? Também não têm aliados ainda…" É verdade. Mas pertencem ao território da política, e seus respectivos partidos têm interlocução no Congresso. Marina é uma aventura que só não é solitária porque arrebanha alguns fiéis. Nesse sentido, ela se parece muito com Bolsonaro, embora as suas respectivas igrejas tenham credos bem distintos.
Ademais, quem não consegue nem fazer, por intermédio de um interlocutor, uma consulta privada a Palmeira — para não ter de passar o vexame de levar um "não" de um ator cujo diferencial hoje é ser um pequeno produtor orgânico — pretende governar o Brasil com quais instrumentos?